sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

975 - Hoje de outra pessoa muito mais sabia que eu.

 Meu muito amado filho Estêvão


Como te disse já as vezes outras pessoas amigas passam aqui a deixar as suas sabedorias hoje é uma amiga sabia.

Ouve-a. Lê-a.


Olá, Estevão.

Ainda não nos conhecemos, mas a tua mãe pediu-me que escrevesse um pequeno texto para o teu blog. E assim… cá estou eu.

Pensei muito no que te queria dizer. Não é fácil. Mas depois lembrei-me de uma coisa que a minha mãe me disse quando eu tinha mais ou menos a tua idade.

Naquela altura, eu queria ser todos os dias uma coisa diferente. Tenho a certeza de que já estás a perceber o quadro. Porém, antes de te revelar o que a minha mãe me disse, tenho de te explicar uma coisa: eu nasci numa família “internacional”, digamos assim, e multicultural. O meu pai era anglo-sueco naturalizado português, a minha mãe natural da Madeira, onde a influência inglesa era muito forte, com uns pozinhos de francesa. E, para ajudar à festa, aos 2 anos e meio entrei para um colégio alemão. Mais internacional e multicultural, naquela época, era difícil!

Voltando à minha mãe e ao que ela me disse: “Tens tempo para escolher o que queres ser mais tarde. Quando chegar a altura, saberás. O que podes decidir agora, é como queres ser.”

Na altura não percebi, por isso perguntei: “Como quero ser? Mas isso eu já sei! Sou alta, magra, loira…” A minha mãe não me deixou continuar: “Só te estás a descrever fisicamente. Não é isso que importa, nem é isso que te vai definir como pessoa. O que te vai definir é o COMO QUERES SER. Queres ser arrogante? Ou tratar todos bem, da mesma forma? Queres ser preguiçosa e não fazer nada da tua vida, ou queres trabalhar para construir algo?”

Podia tentar continuar a dizer tudo aquilo que ela me disse, mas, sinceramente, já não me lembro. Mas ainda me lembro de uma coisa que me marcou muito: “Nasceste nesta família onde existem pessoas de várias culturas, de várias raças, até. O teu pai e eu sempre fizemos questão de que aceitasses todas estas diferenças como naturais. Tentámos sempre enriquecer a tua vida com experiências diferentes, com troca de ideias com pessoas diferentes. Com tudo isto, temo-nos esforçado por te dar o maior número possível de valores que consideramos corretos. E é essa a escolha que tens de fazer. Que valores vais escolher para a tua vida, agora e para o futuro?”

Quando se tem a tua idade, Estevão, é raro pensarmos em como queremos ser. Até porque não sabemos como vai ser o mundo em que vamos viver…

Tal como eu, tu também tens uma mãe extraordinária, que te tem aberto portas, te tem mergulhado noutros mundos, noutras culturas, noutros povos, noutras tradições…

Essa é uma riqueza incomparável. A tua mãe está a mostrar-te o mundo como ele é agora, com o que tem de bom e de mau.

Aproveita todas essas experiências para escolheres aquilo que queres que te defina.

Sabes, eu acredito que cada um de nós pode fazer deste mundo, ou, pelo, menos, dos nossos pequenos mundos, um mundo melhor. Podemos não ser importantes, não ter empregos importantes, isso não faz mal. É com as nossas escolhas, no nosso dia a dia, que podemos (e devemos!) mudar o nosso mundo.

Tens a vida à tua frente. Tens muitos dons, como o desenho e, agora, a escrita, e outros que certamente ainda não conheço. E tens uma experiência de vida já muito variada para a idade que tens.

Espero, não, espero não! Sei que vais fazer boas escolhas, que vais traçar o teu perfil da melhor maneira, e que, só por isso, vais fazer a tua mãe e a tua avó felizes. Mas também te vais fazer feliz a ti, e aos que te rodeiam e te vão rodear no futuro.

Para terminar, uma pequena adivinha: sabes o que é que nunca chega?

Se disseste amanhã, acertaste. O amanhã será sempre o amanhã. Por isso, e se me permites, só mais uma coisinha: sem deixares de pensar no futuro, concentra-te no agora, no presente, e vive cada momento o mais intensamente possível. Espreme cada minuto, bom ou mau. O bom é o que te vai dar força para seguir em frente, o mau é o que te vai ensinar a lidar com erros, falhas, tristezas.

Como sempre, escrevi muito… E muito ainda ficou por dizer. Um dia, quando estivermos juntos.

Com um carinho muito especial, e o desejo de que a tua caminhada seja proveitosa, mando-te um enorme beijinho.

Ana Syder Fontinha

Lisboa, 6 de janeiro de 2023

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