Meu muito
amado filho Estêvão
Muitas
pessoas e acontecimentos fizeram como podes imaginar muita diferença nesta
minha vida de quase 40 anos. Cada pessoa cada ensinamento marcou e hoje tudo o
que sou é um somatório de cada pessoa e cada ensinamento.
Hoje queria
falar-te de ser peregrino. Pelo menos uma vez na tua vida adulta sai de casa e
vai a Fátima, a Lurdes ou a Santiago de Compostela como peregrino.
Há uns anos…
muito antes de tu nasceres. Eu estive doente. Doente a sério. Um dia falaremos
sobre isso. Hoje ainda não é esse dia. Quando estava mais doente um dia senti
dentro de mim uma vontade de assim que melhorasse, assim que conseguisse faria
o caminho português de Santiago de Compostela.
E fiz.
Viajar é
maravilhoso, é maravilhoso organizar a viagem, programas a viagem e chegar ao
destino aproveitando o que se come, bebe, cheira, ouve, sente. Viver a viagem,
aprender e aproveitar e sentir de tudo.
Ser
peregrino é muito diferente de viajar.
Pensas no sítio
de onde partes e para onde vais. E depois chegar deixa de ser importante,
chegar ao destino é apenas um dos objetivos mas longe longe de ser o mais
importante.
Ser
peregrino é caminhar é fazer a caminhar orações, meditações, é como em nada
mais fazer caminho caminhado. Ser peregrino é a cada passo dado amar a Deus,
amar-se a si, amar o próximo, cada passo dado cada bolha no pé, cada lagrima,
cada pedra dão sentido e justificativa ao caminho. Ninguém sai de um sítio e
chega ao destino sendo o mesmo, quando se sai em peregrinação dão-se saltos de
autoconhecimento incrível.
Cada dia a
caminhar, com o cansaço que se trás nos pés, com o coração ao alto, ouvimos
melhor o que o nosso Deus nos diz, ouvimos sem ego o nosso coração. Quando os
pés doem mais que a alma, a calma instala-se.
Chegar a
Santiago e ver a Catedral… estou a escrever-te e as lagrimas correm-me pela
cara… por me lembrar do caminho, pro me lembrar de como foi maravilhoso ver os
pináculos da catedral centenária a ficarem cada vez mais perto… e todas as
conversas do caminho serem justificadas e todas as dores físicas do caminho
terem paralelos com as pedras do caminho quer sejam pedras mesmo quer sejam
dificuldades.
A humildade
de caminhar, de ter fome, calor, frio, dor, medo e um cansaço extremo é o
verdadeiro sentido do caminho em peregrinação.
Lembro-me de
ter chegado e de me ter sentado no chão à sombra… e chorei tanto mas tanto… não
de tristeza de maneira nenhuma mas sim de alegria de alegria pelo que me trouxe
o caminho, de infinita alegria por ter conseguido, por me ter ultrapassado, por
ter vencido as dificuldades. Nunca mais me vou esquecer.
Põe uma
peregrinação na lista de coisas a fazer … e leva sapatos velhos confortáveis.
Amo-te
infinitamente
Tua mãe
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