Meu muito amado filho Estêvão
Hoje sobre ser mãe…. Para entenderes a tua mãe, e a mãe dos
teus filhos e as mulheres todas no geral!
“Dizem: quando nasce um bebê, nasce uma mãe também.
E um polvo.
Um restaurante delivery.
Uma máquina de chocolate prontinho.
Uma mecânica de carrinhos de controle remoto.
Uma médica de bonecas.
Uma professora-terapeuta-cozinheira de carreira medíocre.
Nasce uma fábrica de
cafuné, um chafariz de soro fisiológico, um robô que desperta ao som de choro.
E principalmente:
nasce a fada do beijo.
Quando nasce um bebê,
nasce também o medo da morte – mães não se conformam em deixar o mundo sem
encaminhar devidamente um filho.
Não pense você que ao
se tornar mãe uma mulher abandona todas as mulheres que já foi um dia. Bobagem.
Ganha mais mulheres em si mesma. Com seus desejos aumentam sua audácia, sua
garra, seus poderes. Se já era impossível, cuidado: ela vira muitas. Também não
me venha imaginar mães como seres delicados e frágeis. Mães são fogo, ninguém
segura. Se antes eram incapazes de matar um mosquito, adquirem uma fúria
inédita. Montam guarda ao lado de suas crias, capazes de matar tudo o que
zumbir perto delas: pernilongos, lagartas, leões, gente.
Mães não têm tempo
para o ensaio: estreiam a peça no susto. Aprendem a pilotar o avião em pleno
voo. E dão o exemplo, mesmo que nunca tenham sido exemplo. Cobrem seus filhos
com o cobertor que lhes falta. E, não raro, depois de fazerem o impossível,
acreditam que poderiam ter feito melhor. Nunca estarão prontas para a tarefa
gigantesca que é criar um filho – alguém está?
Mente quem diz que
mãe sente menos dor – pelo contrário! Ela apenas aprende a deixar sua dor para
outra hora. Atira o seu choro no chão para ir acalentar o do filho. Nas horas
vagas, dorme. Abastece a casa. Trabalha. Encontra os amigos. Lê – ou adormece
com um livro no rosto. E, quando tem tempo pra chorar – cadê? -, passou. A mãe
então aproveita que a casa está calma e vai recolher os brinquedos da sala.
“Como esse menino cresceu”, ela pensa, a caminho do quarto do filho. Termina o
dia exausta, sentada no chão da sala, acompanhada de um sorriso besta.
Já os filhos, ah…
Filhos fazem a mãe voltar os olhos para coisas que não importavam antes. O
índice de umidade do ar. Os ingredientes do suco de caixinha. O nível de sódio
do macarrão sem glúten. Onde fica a Guiné-Bissau. Os rumos da agricultura
orgânica. As alternativas contra o aquecimento global. Política. E até sua
própria saúde. Mães são mulheres ressuscitadas. Filhos as rejuvenescem,
tornando a vida delas mais perigosa – e mais urgente.
Quando nasce um bebê,
nasce uma empreiteira. Capaz de cavar a estrada quando não há caminho, só para
poder indicar: “É por ali, filho, naquela direção”. Cris G.
Meu amor maior meu
filho infinito orgulho em ti
Infinito!!
Tua mãe
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