Meu muito amado filho
Estêvão
Hoje gostava de te explicar
um pouco melhor que amor é este que aqui te falo.
É talvez o assunto mais
falado do universo humano, filósofos, poetas, escritores, pintores, compositores,
músicos todos se perderam com a temática o que é o amor.
Por isso podes imaginar que
não sou ninguém para te falar sobre isso mas mesmo assim quero muito falar-te
sobre o amor que aqui te venho e virei a falar.
Começo-te por dizer que o
amor que aqui te falo não tem nada a ver com possuir, com ter, com poder. O
amor que aqui te falo não tem nada a ver com amo-te se fores assim ou se
fizeres assado, o amor que aqui te falo não tem condições, o amor que aqui te
falo não é mais ou menos ou menor ou maior, o amor que aqui te falo não tem
medida é imenso infinito, eterno e sem medida. O amor que eu te falo vem do
encontro de almas, não vem de sexo (sexo é optimo mas não é amor), não vem de
querer bem isso é talvez amizade, não vem de desejar, isso é atração (que é
optima mas não é amor). O amor que eu te falo nada pede, nada quer, tudo dá. O
amor que aqui te falo não culpa, não magoa, não desilude, isso são as pessoas e
o que pensamos delas e o que desejávamos que elas tivessem feito e não fazem. O
amor não se esquece nem desaparece, só há um caminho do amor que é crescer. O
amor não é carinho, não são beijos e abraços, embora estes possam em algumas
circunstancias ser manifestações maravilhosas de amor, o amor continua mesmo
sem possibilidade de beijar. O amor não se compadece com sofrimento, não o
causa, o amor não se compadece com mentir com enganar, não o faz. O amor nada
tem a ver com discutir porque o amor conhece, aceita, integra, espera, e
acompanha. Amor não tem nada a ver com o corpo, com mamas e rabos e olhos e
pés, o amor não vê rugas ou celulite isso é atração física. Amor vê coração,
amor vê alma, amor vê caminho, amor vê conhecimento, amor vê fazer bem, estar
bem, dar-se mas isso não passa com o tempo, nem acaba mais.
“O Amor é incondicional...
Como tal, Não tem condições! Assim,
quando sofres nunca poderá ser por sentires Amor, pois esse não espera nada.
Sofres por o comportamento dos outros não corresponder ao que esperavas ou por
já não estarem perto de ti. Sofres pelas
expetativas defraudadas ou pelas saudades. Não pelo Amor! Esse apenas te faz flutuar
e voar, nunca sofrer. Esse apenas cria, nada destrói. Esse apenas te ilumina,
não escurece. Esse apenas é. E não pode
não ser.”
By:
Pedro Vieira
Agora é que complicou não é
Estêvão? Afinal disse-te o que não era o amor mas não te disse o que era o
amor!!?!
Tu não escolhes quem amas,
alias se escolhesses provavelmente escolherias outro objecto do teu amor.
O amor é um sentimento que
sentiras se tiveres muita sorte na vida. O amor não é como a fome que todos um
dia mais tarde ou mais cedo sentem. Nem todos querem sentir amor, nem todos
podem sentir amor e nem todos conseguem sentir amor.
Amor não tem nada a ver com
namorar, casar ou só ir estando.
Para amar tens de deixar de
ter medo. O medo de perder o controlo da situação, o medo de seres ridículo, o
medo de sofrer, tens de deixar de seres só tu, tens de deixar o sol
arremessar-te contra a parede do quarto se queres sentir amor. Amor é deixares
de conhecer as regras, é passares a ser um perdido, e perdidamente acreditares
que esse é o único caminho.
Por isso é que nem todos
podem e conseguem amar, há pessoas que as suas próprias vidas e vivências não
lhes permitem deixar o amor crescer a semente crescer.
O amor é como uma semente de
dente-de-leão, andam a voar por todo o lado e podem cair no chão e ficar, e
devagar mas de um modo seguro vão crescendo vão pondo suas raízes e crescendo e
o amor cresce, ou podem encontrar um quintal de uma pessoa que o varre a toda a
hora e a semente não consegue crescer nem dar frutos porque é empurrada para a
sombra.
O amor é como um embrião. Um
óvulo e um espermatozoide juntos dão um embrião, este divide-se, divide-se e
fixa-se no útero onde dará origem a um ser que em 30 anos pode ir a lua pode
cozinhar o mais fantástico bolo ou escrever o mais maravilhoso texto… ou pode
ser arrancado por um qualquer instrumento cirúrgico e não passará jamais de um
monte de células que se juntaram e se dividiram e que tinham potencial e alguém
acabou com ele antes de ele poder crescer.
Muitas vezes na tua vida
vais ouvir dizer que os homens são uns idiotas, mentirosos, infantis, egoístas,
sem capacidade de assumir compromissos, são uns traidores e demais adjectivos.
Vai ouvir que as mulheres são ciumentas, possessivas, que são complicadas, neuróticas,
que se metem nas amizades dos homens, que gastam muito dinheiro, que só pensam
em compras, que só pensam nelas, que só pensam nos filhos, que não sabem o que
querem, que falam baixo, que falam alto e sei la que mais adjectivos.
Nem vou perder aqui um
minuto a falar te sobre estas conversas que reduzem as pessoas individuais a
caracterizações de grupo, cada pessoa é o que é tem milhões de defeitos e
outras tantas qualidades. Haverá com toda a certeza homens que mentem como há
os que não mentem, haverá sem dúvida mulheres que são possessivas e aquelas que
simplesmente não o são.
Todas as características que
as pessoas alvo do nosso amor tenham podem ser benéficas ou não dependendo da
situação particular da vida… e por isso mesmo podem magoar-nos ou não… mas isso
nada tem a ver com amor.
Tem a ver com uma imagem com
uma ambição que tínhamos para a atitude da pessoa que não cumpriu com o que nos
pensávamos e isso sim magoa… mas isso não é amor.
O amor perdoa. Sem ser
pateta. O amor perdoa. Sem ser preciso sequer pedir desculpa.
Agora complicou mais não foi
meu filho. Agora fui ao ego. Agora fui a um sitio que não devia ter ido que é
ao “cá me fazes cá te pago”… isso não é amor. Tu não és menor por perdoares…
nem maior por sinal. Simplesmente amas e não te prendes com banalidades. E
atenção perdoar não é esquecer. É simplesmente não deixar que atitudes,
comportamentos afectem o meu amor, o meu comportamento, o meu pensamento, a
minha vida. Dificil? Sim complicadíssimo.
O amor que te falo aqui é
amor a pessoas, não a causas. Isso ficará para outro dia. Mas este amor é amor
a pessoas. Venham de onde venham sejam quem sejam vivas ou mortas, perto ou
longe.
E quando tu amas e não és
amado de volta? Isso não é um problema. O amor não é como sexo. No sexo (no bom
sexo) tu dás o que recebes, ai é imediato, é dois, é dar e receber. Isso não é
assim no amor.
O teu amor pode encontrar
amor no objecto do amor e isso é uma perola rara que jamais deve ser deixada
perder e essa é a circunstância mais feliz que qualquer ser humano pode sentir.
E aqui não há eu amo-te mais
que tu me amas a mim. O amor não tem medida lembra-te.
O amor pode encontrar alguém
que não nos ama. Mas isso não diminui o teu amor. O teu amor é o teu amor. O
teu amor também não vai provocar amor no outro (jamais penses assim, isso
levar-te-ia a grande dor) o teu amor é gerador de felicidade em ti, é de ti
para alguém e é maravilhoso por isso mesmo. O teu amor é teu para dar e dos
outros para o acolherem. Quem é alvo do amor não o pediu não o pode aceitar ou
recusar, só pode ficar imerso nele.
Mas essa imersão não
significa nunca que te ame ou te passe a amar. Isso não acontece e pensar que o
nosso amor muda o amor dos outros é a mesma coisa que pensares que um bebe pode
comandar o amor que os pais sentem por ele. Não pode.
E da mesma maneira que hoje
te deixas amar profundamente por mim e por todos os que te amam. Na tua vida
quando te amarem deixa que o façam, não afastes a pessoa e o seu amor por medo
dele mesmo, não procures porquês e como no amor que te têm… recebe de alma, de
coração aberto o amor que te têm. Deixa-te emergir nesse amor.
"... E de novo acredito
que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a
ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
in Equador, de Miguel Sousa Tavares
in Equador, de Miguel Sousa Tavares
Amo-te. Sempre te amarei.
Tua mãe
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