domingo, 9 de junho de 2013

140 - Tolerância

Meu muito amado filho Estêvão
Há muito que não te escrevo não porque não tenha nada a dizer mas porque tenho tido muito pouco tempo para converter em palavras tudo o que te quero dizer. Não voltará a acontecer.
Eu já te disse antes que tenho muito medo de fazer coisas erradas contigo. Tenho mesmo. Tenho medo de trilhar caminhos que depois eram pelo outro lado.
É muito comum nas pessoas crescidas fazerem essas asneiras. Acho que sábio sábio és tu que és puro de coração.
Acho que hoje te queria falar de memória.
É muito importante ter memória. Das experiências aprendemos sempre muito, e é para isso que andamos por cá para irmos aprendendo e conhecendo e evoluindo e andando para a frente.
Mas não te prendas a elas sem evoluíres. O que te quero dizer é que por alguma coisa não ter corrido bem de uma maneira não julgues sempre tudo por essa experiência.
O que te quero dizer é muito simples.
Na tua vida vais conhecer quem te minta. Não passes a desconfiar de todos por essa mentira.
Na tua vida vais conhecer quem te roube. Não penses que o mundo é feito de ladrões.
Na tua vida vais conhecer quem aja mal contigo. Não penses que todas as pessoas assim farão.
Na tua vida vais conhecer quem te faça triste. Não penses que do contacto com as pessoas só vem tristeza.
Acredita sempre que a vida é maravilhosa. Acredita que as pessoas são boas. Acredita que o amor existe em milhões de maneiras e formas de ser vivenciado.
Acredita em fazer sempre o bem. Acredita em não magoar as pessoas à tua volta.
Tem fé absoluta nas pessoas e no maravilhoso que as pessoas podem ser. E no maravilhoso que é aceita-las na nossa diferença.
Tu és um ser único e maravilhoso e dentro dessa unicidade tens de aceitar quem não goste da mesma sopa que tu, quem não goste da mesma musica que tu… a mãe tem um amigo que é ótimo a ensinar isso mesmo… todas as pessoas tem qualidade e é nessas e não nos defeitos que nos devemos focar.
Se aquela pessoa é muito antipática e ausente, procura não pensar nisso mas no facto de ser talvez generosa e inteligente. Percebes?
Ser feliz raramente esta dependente dos outros à nossa volta, do exterior, na grande maioria das vezes seres feliz depende de ti de como te vês de como encaras o mundo e de como aprendes a dançar à chuva em vez de esperares a chuva passar.
Outra coisa que a vida também me ensinou é que as vezes aquelas coisas que a vida nos mostra através dos outros e que tanto nos irritam as vezes não são nada mais nem nada menos que coisas que temos de resolver em nós. Pontos claros de evolução em nós. Ao fazeres este exercício… Ok esta pessoa ao fazer isto ou aquilo esta a irritar-me não consigo pensar noutra coisa só no quanto aquela atitude me irrita. Pára. Respira e pensa. Ora não sendo eu perfeito porque é que esta atitude em particular tanto me irrita? O que é que tenho de aprender eu deste comportamento?
Vou dar-te três exemplos.
A desarrumação a mim em especial irrita-me muito. Porquê? Porque eu sou demasiado arrumada e gostava de ser um pouco mais desarrumada. Ser (um pouco) desarrumado é ser livre para fazer outras coisas para não ser escravo das coisas.
Outro exemplo.
A falta de pontualidade nas outras pessoas irrita-me muitíssimo. Porquê? Porque sou um excesso de pontualidade e tenho de aprender a descontrair com isso a crescer a ficar mais livre de falhar mais livre de também nesse dia dormir ate mais tarde. De não me sentir culpada por isso.
Quando a mãe estava na faculdade a mãe tinha colegas que faziam cabulas nos exames. A mim irritava-me de uma maneira que filho tu não imaginas. E porquê? Porque é que as cábulas dos outros me irritavam a mim que nada tinha a ver com elas?
Pura inveja da coragem dos meus colegas em cábulas, em ir “contra as regras” e arriscar. Em estudar menos e fazerem outras coisas. Pura inveja e é muito feio. Quando percebi esta minha atitude foi um alivio porque percebi que não tinha nada que ter inveja de ninguém e …. Deixou de me irritar!
Não sei se te expliquei … basicamente tu apesar do ser maravilhoso que és… és também um ser muito imperfeito, aceita-te nas imperfeições aceita os outros nas deles e vivam bem.

Amo-te demais



Tua mãe



Nenhum comentário:

Postar um comentário

1052 - Carta a um filho de um pai (que não sou eu mas podia ser)

 Meu muito amado filho Estevão  Hoje do escritor Pedro Chagas Freitas [carta ao meu filho] Promete-me. Promete-me que vais tentar. Que vais ...