terça-feira, 19 de março de 2013

139 - Dia do pai

Meu muito amado filho
Hoje é dia do pai.
Não gosto disto dos dias disto ou daquilo ... mas hoje é mesmo o dia do pai.
O meu pai gostava deste dia. Gostava de receber prendas neste dia. O meu pai era (é) o teu Avô Francisco.
O Avô Francisco era escorpião, tinha olhos verde água e o cabelo todo branco. Tinha um tique de morder a unha do dedo esquerdo. Era engenheiro agrônomo e toda a vida trabalhou no ministério da agricultura. Foi soldado na guerra do ultra-mar e combateu em moçambique. Era uma pessoa que era tida como simpática pelos colegas de trabalho, eu tinha-o como pessoa muito exigente para mim.
Hoje (hoje mesmo, mais do que em qualquer outro dia desde que faleceu em 2010) lembro-o como uma pessoa que me deu muitas ferramentas sem as quais hoje não viveria.
Durante anos a nossa relação foi muito mais ácida que doce muito mais longe que perto e nem imaginas como hoje lamento isso.
Sabes meu filho, durante anos (e hoje ainda um bocadinho) há muitas coisas, muitas atitudes que eu não entendo do teu avô Francisco... mas hoje e com o filtro mais generoso e correto do mundo o filtro do tempo, consigo perceber que algumas das coisas que eu "não gostava" no meu pai são as "coisas" que me fizeram quem sou que me moldaram a ser a pessoa que sou hoje. E que bom que é. E que bom que foi. Doeu muito mas acho que seria menos corajosa, teria muito menos o sentido de justiça fase ao próximo se o meu pai tivesse sido outro.
Sabes filho, pai é pai e pai ama como mais ninguém mesmo que as vezes não pareça mesmo que às vezes não pareça mesmo nada. O pai vê a estrada mais longe que nós e acredita que em pequenas coisas da nossa vivencia eu vejo já muito de mim como educadora que o meu pai foi também.
Era muito pequena e lembro-me de estar a dar na televisão um programa sobre a Guerra de Africa. Lembro-me de pensar como era ridícula a ideia da Guerra as razões dessa Guerra em particular e lembro-me de pensar e dizer que se eu fosse rapaz na altura fugia mas não ia à Guerra. E tenho esta resposta marcada na alma até hoje (provavelmente mais ninguém no mundo se lembra dela): "Filha a Guerra não era minha, não era nossa, nem sequer era da maioria dos Portugueses, era uma Guerra inútil como todas as Guerras são mas como é que ficaria a minha cara a minha honra, como viveria eu o resto da minha vida se eu fugisse e não tivesse combatido como outros fizeram e até por lá morreram?"... ainda hoje acho que é isto que me faz não ficar calada é o que me faz achar que tenho de lutar. E lutar mesmo.
Lembra-te de onde vens e para onde vais.
Sempre

Amo-te demais




Tua mãe

Nenhum comentário:

Postar um comentário

1052 - Carta a um filho de um pai (que não sou eu mas podia ser)

 Meu muito amado filho Estevão  Hoje do escritor Pedro Chagas Freitas [carta ao meu filho] Promete-me. Promete-me que vais tentar. Que vais ...