Meu muito amado filho
A gravíssima crise económica que Portugal (a
Europa em geral e grande parte do mundo) vive de momento, trouxe a todos muitas
aprendizagens… e mim trouxe tanto para aprender… converti-me definitivamente ao
minimalismo da vida, à absoluta necessidade vital de poupar, o verdadeiro
sentido do sacrifício, à importância do discernimento, aprofundei ainda mais o verdadeiro valor do
ser família, aprendi com ainda mais clareza a importância do trabalho e do agradecimento.
Por tudo isso eu, e muitos portugueses (e
cidadãos do mundo) tivemos de fazer e fazemos todos os dias sacrifícios sem
tamanho por valores muito maiores que eu e que tu. O que importa?… Para mim, a única coisa que
verdadeiramente importa és tu e o teu bem maior. Qualquer sacrificio vale para poderes estudar, teres saúde, andares vestido etc.
A crise coloca-nos perante escolhas. Algumas muito muito dificeis. Mas isso é o que faz de nós adultos. Escolher.
Ir jantar fora ou pagar a conta da luz?
Pagar o dinheiro a quem se deve ou ir viajar?
Comprar aquelas calças ou pagar a ginástica
ao filho?
Eu não estou aqui a dizer que comer fora não
se deve fazer bem pelo contrário deves sair sempre que possas, assim como deves
(tens mesmo!) que viajar e comprar roupa nova é ótimo… mas há prioridades….
Posso gastar isto agora? Ou vai fazer-me falta daqui a nada para coisas
verdadeiramente importantes!
Tudo o que te diz respeito, tudo o que
implica a tua roupa, a tua saúde, a tua formação académica são as minhas
prioridades… e como digo sempre “enquanto houverem escadas para lavar” não te
faltarão sapatos para calçar.
Quando tinha 7 anos uma vez em Sesimbra, no
verão, na praia assisti a um episódio que nunca mais, nunca mais me esqueci.
Havia uma loja pequenina que vendia revistas, brindes, jornais, rebuçados,
brinquedos, etc. Estava eu a ver uma revista para ver se tinha dinheiro para
comprar e entrou uma mãe com um filho pela mão, ele vinha muito vermelho e a
chorar e a mãe chegou ao balcão e disse ao funcionário da loja “Este é o meu
filho Pedro ele tem uma coisa para lhe dar e duas para lhe dizer, peço a sua
atenção”… o Pedro chorava e chorava e dizia “Mãe não, mãe não não quero, não
posso, tenho vergonha, não tenho coragem!”… E ela disse “AGORA PEDRO!”… e ele
disse “Este brinquedo (e estendeu a mão e deu um brinquedo, um carrinho) eu levei e não paguei estou a devolver ao senhor e quero
pedir perdão da minha atitude e quero oferecer os meus serviços para a poder
recompensar, tenho de fazer isso para que nunca mais me esqueça desta lição!”
Já se passaram 33 anos desde este dia e eu
nunca mais me esqueci. Não me esqueci como ser mãe (e irmão e tio e tia e etc)
é também isto… ensinar o filho para a verdade! É não ser cumplice, é não arranjar desculpas.
"Ah a mulher dele é uma chata por isso ele arranjou uma amante!", "Ah a professora da escola é uma burra por isso ele tira más notas na escola!", "Ah o pai dele tratava-o mal por isso ele ficou assim temos de ter essa atenção!", "Ah tambem é só um anelzinho de nada que ele tirou não é que ele tenha roubado um banco!"
Esta mãe poderia ter “olhado
para o outro lado”, podia tomar o lado do filho e não dizer nada (e onde isso
iria parar um dia?!?!? O filho traia a nora e a sogra não diz nada! O filho não
cuida dos filhos e a avó não diz nada!? O filho rouba no trabalho e a mãe nada
diz! O filho é incorreto no trabalho e a mãe nada faz!?)… mas não, esta mãe
sabe que amar é mesmo mesmo mesmo fazer o melhor para os filhos e isso é sempre
estar do lado do bem. É pegar no filho pelo braço e arrasta-lo à loja para ele
repor o bem na hora. Educar é ajudar a crescer ajudar a ser melhor e não simplesmente ser uma "porreira", "ser simpatica", "ser fixe", "ser amiga". Educar é fazer estas coisas todas mesmo que custem. Tenho a certeza que o tal Pedro deve ter pensado bem na vida dele em tirar coisas que não fossem dele! Esta mãe demonstrou não só um profundo amor pelo filho mas mostrou que tinha caracter e valores e isso eu nunca mais esqueci!
Nunca mais me esqueci do filho que não disse
“ai e tal desculpa lá todo o mal que te fiz!” … não… foi lá e pagou e repôs …
repôs só assim podia ficar no bem. Repôs o mal feito e disse “eu venho cá
oferecer os meus serviços para repor o bem!”. Perdoar-se é isso mesmo repor o mal feito.
Foram duas lições que para sempre me hei-de
lembrar.
Família não é esconder o mal dos outros …
numa falsa ideia de “nós (família) contra eles (quem não é irmão ou irmã ou
primo ou prima ou tio ou tia etc)”… o bem de quem eu amo mesmo pode ser “virar
a mesa” e dizer “acabou agora não mentes mais não prejudicas mais”… isso alias
é o verdadeiro amor. É não passar a mão pela cabeça mas sim … trilhar os
caminhos do bem.
A moral da história é “Teve coragem de fazer
o mal. Tem de ter coragem de corrigir o erro. Tem que ter.”
Envolve-te nas coisas sejam elas quais forem, seja o trabalho, a tua saude, o teu hobby, a tua vida sentimental, a tua vida cidade, a tua igreja, a tua casa.... mete amor e paixão nas coisas!
Não olhes para o relógio quando estiveres a conversar com alguém.
Nunca digas a ninguém que não sabe cantar.
Nunca digas a ninguém que não tem sentido de humor.
Pelo menos uma vez na tua vida telefona para um programa de rádio ou televisão em directo dando a tua opinião.
Não discutas com a tua mãe, acredita que tudo o que te ensinar a bem ou a mal é com amor e a vida vai te ensinar as mesmas coisas mas sem amor... à bruta!
Sabes qual eu acho que é a maior liberdade do mundo?!?! falar.... viver num sitio onde sou ouvido onde posso perguntar que me respondem onde posso fazer perguntas de qualquer especie e me respondem. Onde as minhas questões e duvidas são respondidas.
Isso é maravilhoso.
Amo-te infinitamente
Tua mãe
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