Meu
muito amado filho Estêvão
Hoje
vai ser longa…
Hoje
queria falar-te sobre o que é para mim a coerência e o testemunho de ser cristã
neste nosso mundo. Quero falar-te da minha crença. De como eu sou cristã.
Vou
dividir em 7 partes o que te quero dizer no sentido de simplificar e tornar
claro.
1 – O amor
Perguntaram
a Jesus: “Qual é o maior mandamento?”
Jesus
disse: “Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma
e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é
semelhante e igualmente importante: amarás ao teu próximo como a ti mesmo”
Mt
22, 37-39.
Ser
cristão não é só uma questão de práticas religiosas mas também (alias
principalmente) de viver na prática a vida do dia-a-dia segundo o caminho que
Jesus ensinou. O essencial deste caminho é o mandamento do amor que podemos
resumir assim: “ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti
mesmo”.
O
essencial é o amor. É esta a grande riqueza que um cristão procura, tentando
imitar Jesus e os grandes santos. Tal como uma moeda, o amor tem dois lados
inseparáveis: o amor a Deus e o amor aos outros. Amar o próximo significa
querer e promover o bem do outro, tal como queremos e procuramos o nosso
próprio bem.
2 – O perdão
Jesus
disse: Se fores apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares que o
teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e
vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão
Mt
5, 23-24
Perdoar
não é simplesmente pedir perdão é voltar atrás e repor o mal feito é sair de si
e repor o mal feito aos outros. Muitas vezes há mal-entendidos e ofensas nas
relações, até mesmo com pessoas que são nossas amigas ou familiares. É nestes
casos que temos que aprender a perdoar, tal como Jesus ensinou.
Um
dia S. Pedro perguntou a Jesus: “Quantas vezes devemos perdoar? Até 7 vezes?”
Jesus respondeu: “Não até 7 mas até 70 vezes 7” (Mt 18, 22) Ou seja sempre! O
perdão ser um esforço habitual num cristão. Dar o perdão aos outros
liberta-nos, repor o mal feito aos outros apazigua a alma de cada pecador.
Se
for possível, perdoar implica fazer as pazes e chegar à reconciliação com a
pessoa que nos ofendeu. Se tal não for possível, um cristão deve sempre fazer
de tudo para tirar de si a mágoa da ofensa e decidir-se interiormente pelo bem
do outro. Se um dia estiver nas suas mãos a felicidade ou a infelicidade dessa
pessoa, escolherá sempre a felicidade.
Mas
o perdão que o outro nos dá não é (nem poderá ser) razão para não repor o mal
feito… o perdão do outro é da alma o repor o mal feiro é amor ao próximo logo a
Deus.
Perdoar
não é de todo esquecer. O perdão deve acontecer mesmo sem esquecimento.
Quando
eu ofender outra pessoa, tenho de ultrapassar o orgulho e devo pedir perdão e
buscar a reconciliação, remediando, corrigindo, repondo com o bem o mal que
fiz. Deve ser propósito do Cristão repor o mal feito e só descansar depois de o
fazer.
3 – A sinceridade
Jesus
disse: Seja este o vosso modo de falar “Sim, sim; não. Não” Mt 5, 37
Sincero
quer dizer sem mascaras. Quem segue Jesus Cristo deseja ter uma só cara, onde
quer que esteja. Isto implica não mentir, ser honesto, ter uma só palavra, não
cometer fraudes, não prestar falso testemunho, ter uma palavra na qual os
outros possam confiar. Significa também não levantar falsos testemunhos nem
dizer coisas que possam estragar o bom nome de outras pessoas.
Algumas
pessoas pensam que a sinceridade é dizer sempre tudo. Mas esquecem-se que a
regra mais importante da sinceridade é a caridade, ou seja sempre e só o bem do
outro.
Um
cristão deve dar mais valor às coisas positivas que vê nas outras pessoas que
às negativas e usar as suas palavras para difundir e construir o bem,
recordando-se que ele próprio também não é perfeito.
Por
vezes pode ser importante a denúncia do mal feita com coragem. Mas, mesmo ai, a
preocupação deve ser sempre a construção positiva do bem (e não a crítica fácil
ou a simples má-língua).
4 – A pureza de coração
Jesus
disse: Felizes os puros de coração porque verão a Deus. Mt 5, 8
Puro
quer dizer: sem mistura de segundas intenções. A pureza é a limpeza do nosso
coração quando olhamos, pensamos ou nos aproximamos de alguém: é agir sem
egoísmo. O ideal é uma pessoa ter um coração tão puro que não se importasse que
todos os seus pensamentos e intenções fossem conhecidos de toda a gente. Puro é
ter apenas uma cara, a verdadeira. É não entrar em “esquemas” é não ser duas
pessoas.
O
amor puro de um casal implica cada um preocupar-se sinceramente com o bem do
outro, em vez de querer usar ou possuir simplesmente para o seu próprio
bem-estar. Passa pela ajuda, pela verdade, pela fidelidade e pela busca ddo
diálogo de coração aberto, sem o qual não é possível crescer numa relação a
dois.
5 – A vida
Jesus
disse: Ouviste o que foi dito aos antigos: “Não matarás”. Eu porém, digo-vos
quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal, quem lhe chamar
imbecil será réu diante do conselho. Mt 5, 22
Quem
segue o caminho de Jesus Cristo torna-se um defensor da vida, tal como Jesus,
que disse “Eu vim para que todos tenham Vida e a tenham em abundância” Jo 10,
10.
Isto
significa em primeiro lugar, não matar nem causar outro dano (no corpo ou na
alma) a si mesmo e ao próximo. Ser defensor da vida significa, nas situações do
dia-a-dia promover a Paz que nasce da Justiça. Ou seja: lutar por uma sociedade
que valorize cada ser humano por aquilo que ele é (e não pelo poder ou
prestígio que ele tem) e defenda melhores condições de vida para todos.
6 – O desprendimento
Jesus
disse: Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e
os ladrões arrombam os muros a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde
a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Mt
6, 19-20
Embora
as coisas materiais sejam importantes, quem segue Jesus Cristo não vive
obcecado com elas pois tem no seu coração outras riquezas maiores tais como a
bondade, a fé, a verdade, a integridade, a justiça, a justiça social, etc.
O
desprendimento cristão não é um desprezo das coisas materiais mas uma liberdade
que as permite usar bem e disfrutar delas livremente sem se tornar seu escravo.
Este
desprendimento e liberdade permitem a capacidade de partilha com quem mais
precisa, ou seja: a generosidade e a solidariedade.
7 – A solidariedade
Jesus
disse: Se alguém quiser lutar contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a
capa. E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas.
Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado. Mt 5,
40-42
Seguir
a Jesus Cristo implica aprender a olhar para os outros como irmãos (sobretudo
os mais desprotegidos), sentir as nossas necessidades como se fossem nossas,
partilhar com eles o nosso tempo e os nossos bens, mesmo que isso implique
sacrificar a nossa comodidade e nível de vida.
Quem
quer ser cristão deve esforçar-se por ultrapassar o egoísmo e aprender a ser
generoso e solidário. Por isso um cristão preocupa-se com a sociedade em que
vive, fazendo os possíveis para que seja uma sociedade mais justa na qual todos
tenham acesso aos bens fundamentais (alimentação, casa, trabalho, educação,
etc). É também por causa deste interesse pelo bem comum que alguns cristãos
aceitam, por exemplo cargos políticos (a nível nacional ou local) trabalhando
assim para uma sociedade mais justa.
A
dimensão do serviço ganha aqui o seu verdadeiro sentido. Servir é sempre ajudar
a transformar este mundo num Reino de Justiça e Paz.
Para
mim ser cristão é infinitamente muito maior que rezar e cumprir preceitos….
É
SER CRISTO NA VIDA DO DIA-A-DIA É NÃO PREJUDICAR NINGUÉM E AMAR A TODOS.
Amo-te
infinitamente
Tua
mãe