quarta-feira, 13 de março de 2013

138 - A difícil arte de educar


Meu muito amado filho
Hoje cai na conta que um dia vais crescer e vais-me julgar. É natural eu fiz o mesmo com os meus pais. Todos nós passamos por uma fase no nosso desenvolvimento em que achamos que os nossos pais só fazem asneiras e que deviam ter feito assim ou assado e que tu querias era de outra maneira que são uns idiotas que só te querem prejudicar.
Vamos fixar um ponto agora e para sempre. Os teus pais e a tua família de sangue e aquela outra família que o teu coração escolheu só te amam. Nunca mas nunca nunca nunca nunca na tua vida vais conhecer alguém que te ame mais que a tua família. Nunca jamais tenhas duvida disto.
Eu como tua mãe digo-te que se precisares de ar eu dava-to todo. Mas todo todo. Como tua mãe não quero ser tua amiga não quero mesmo. Amigos fundamentais mas são outra coisa. Eu sou tua mãe não serei jamais tua amiga. Quero que haja momentos na tua vida em que só te apeteça dizer-me “odeio-te” (e talvez vá haver um outro em que até mo digas efectivamente) é sinal que estou a fazer o meu papel de te educar. É sinal que estou a cumprir a tarefa a que me propus quando decidi que tinhas que nascer. Porque educar nunca é fácil educar é dizer não milhões de vezes e isso dói e isso vai-te fazer odiar-me profundamente e isso a mim acalma-me porque me diz que te estou a dar regras que te estou a educar para seres um ser humano bom e generoso mas que respeite o espaço a liberdade e a vida dos outros, que perceba que o mais importante não é querer subir é subir mas sem pisar ninguém.
Um dia vais-me julgar. Um dia (ou vários dias) vais chorar muito porque não vais concordar com uma ou mais atitudes minhas. Vais. Obviamente vais porque se não fores é porque pensas e não dizes nada e isso é muito pior. Diz sempre mas sempre sempre o que pensas. Dentro da tua família haverá sempre quem te oiça.
Mas quero mesmo que entendas que tudo mas tudo tudo que faço é primeiro para o teu bem depois para o teu bem e depois ainda para o teu bem.
Vamos ser companheiros de caminho vamos brigar nos cruzamentos da estrada vais fazer birra e mostrar a “beiça” e vai te apetecer atirar os brinquedos ao ar e puxar o cabelo e chorar… vai te apetecer isso tudo mas vais confiar vais confiar e vai ser como se quer … ou seja unicamente para o teu bem.
Há tua volta vais ter pessoas que não te amam porque te deram a vida mas te amam porque o coração delas escolheu amar-te, porque o coração delas é tão brutalmente grande e maravilhoso que te amam mesmo não te tendo dado a vida uma vez…. Dão-ta todos os dias. Fazem por ti a vida. Abriram as suas vidas à tua vida. Mesmo essas pessoas todas um dia vão ser julgadas por ti e também a elas tu vais culpar e cobrar … mas olha também elas (alias especialmente elas) te amam como se ama o mar de imenso e profundo e também elas não vão querer a tua amizade nem o teu respeito porque “tem de ser” todas elas vão querer o teu bem a todo o custo… repito meu amor… o teu bem a todo o custo. A custo de não dormir tão bem, a custo de não fazer isto ou aquilo para te dar isto ou aquilo, a custo de mudar de vida de mudar de rumo de ir ao teu encontro…. De fazerem caminho mesmo sabendo que um dia vão ser julgadas.
Crescer é difícil amor. Vai ser sempre. Dói. Caramba dói tanto que se pudesse doer a mim era já. Mas vai ter de doer a ti. Eu própria vou-te fazer doer. Faz parte do meu papel. Mas em momento nenhum duvides que todos nós família de sangue ou família de coração o que queremos para ti é o teu bem. Só e unicamente o teu bem e se no “fim” (seja lá isso quando for) formos todos julgados e todos odiados mas tu fores o ser maravilhoso que és já e ainda mais em potencial… então todos nós teremos feito o nosso papel.
Todos sem exceção assumimos ao mesmo nível o amor por ti e a vontade imensa em fazer de ti a melhor, mais feliz, mais amável e amada pessoa do mundo, e por outro lado a necessidade de te dizer não milhões de vezes de não te dar tudo o que anseias de te privar de coisas que tu achas que tinhas direito.
Nada de fundamental nunca te faltará e isso sim é amor.

Amo-te como se não houvesse amanha.



Tua mãe

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