Meu muito amado filho Estêvão
Ontem perguntaste-me, "Como sei mãe se um amigo é mesmo meu amigo?"
Pergunta bem difícil para quem tem 43 anos imagina para quem tem 6 anos.
Uma vez há muito muito tempo li um livro sobre a guerra das trincheiras na 1ª Guerra Mundial e no meio do livro dizia assim "eu percebi que ele era meu amigo e que seríamos amigos até morrer quando ele só tinha uma fatia de pão rançoso e dividiu comigo e bebemos um chá juntos a falar da pesca ao salmão e durante exatamente 12 minutos não estávamos numa trincheira em França mas sim em Inglaterra".
Ser amigo verdadeiro é dividir a única fatia de pão que se tem. É dizer a verdade mesmo quando nos não a queremos ver como a tua madrinha Caia que um dia me avisou acerca do perigo que o teu pai era para mim. É estar lá quando se queria estar noutro lado qualquer como a tia Xana que no dia em que o meu pai foi a enterrar esteve comigo o dia todo mesmo precisando estar noutro lado.
Ser amigo é mandar 7 mensagens via telefone a 7 pessoas fundamentais para mim nos 10 minutos a seguir a eu saber que o meu pai faleceu e 6 pessoas responderam em menos de 10 minutos e 6 pessoas puseram-se ao dispor em 6 minutos.
Ser amigo não é quando as coisas estão boas ser amigo é na altura das coisas estarem más. Ser amigo é perguntar "tens dinheiro para pagar tudo este mês?".
Ser amigo é perguntar "quando queres que ai esteja não vais sozinha ao médico!".
Ser amigo é estar ali quando se quer estar noutro lado.
Ser amigo é estar longe e mesmo assim querer o bem do outro é vibrar com as conquistas é não deixar de se fazer presente nem que seja por mensagem.
Amigo não é sobre copos, bebedeiras, festas, "gajas", sobre coisas unidireccionais. Ser amigo é um processo é amar mesmo estando zangado, é querer bem mesmo estando furioso.
Pelo menos é o que eu sei.
Ensina-me se for diferente.
Amo-te infinitamente.
Tua mãe
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