segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

445 - Comprar carro e pessoas mais velhas

Meu muito amado filho Estêvão

Quando fores comprar um carro, não uses o teu melhor relógio.

Não tenhas uma mente tão aberta que te impeça de raciocinar com inteligência.

Aprende a fazer pão de milho na figadeira.

Levanta-te quando uma pessoa mais velha entrar na sala.

Deixa um bilhetinho de amor na bagagem da tua mulher antes de ela partir em viagem.

Facilmente ouvimos conselhos de pessoas que nos são próximas, do género: “Sorri! Pensa positivo! Mesmo que estejas mal, coloca um sorriso (amarelo)...
Sabemos que estes conselhos surgem do carinho e do bem que essas pessoas nos querem, no entanto, surgem muitas vezes como pensos rápidos, que mascaram aquilo que vive em nós e que tem de ser olhado, trabalhado e transformado. Todos nós ficamos tristes, temos assuntos internos para resolver, sofremos, temos momentos de dor e algum tipo de conflito. Todos. Só nós sabemos o que vive em nós, o que nos atormenta e entristece, e assim sendo, só nós podemos resolver e transformar esses mesmos conflitos em momentos de aprendizagem e escolha. Não acredito em pensos rápidos de sorrisos superficiais. Acredito que aquilo que nos provoca dor, pode ser uma alavanca de crescimento para nos encontrarmos e aprendermos a viver de forma mais equilibrada e satisfatória. Acredito também que muitas vezes, sorrisos forçados ou pensamentos positivos não construídos ainda geram mais frustração e mal-estar porque mantêm o aparentemente bem, onde só a aparência está de facto bem. O que era a nossa vida sem desafios? Sem momentos de algum desconforto que nos fizessem avançar e mudar? Talvez uma monotonia e sem momentos de autoconhecimento para desmontar crenças, conceitos e formatações mentais cristalizadas. Se há momentos em que não estamos bem, talvez seja mais importante admitirmos que não estamos bem, sem exigirmos aos lábios sorrisos amarelos. Se por um lado há alturas em que não conseguimos sorrir, é importante que a tristeza não vire rotina e a rotina seja procrastinar. Consciência em nós, no que vive no nosso coração, na nossa mente, e motivação para voltar a sorrir sim, com vontade franca e olho a brilhar.
Pensamos positivos sim, mas com sinceridade e alicerçados numa forma positiva de ver a vida e de a viver.
By: Diana Gaspar Duarte

Percebes que precisas arrumar nas devidas caixas as ilusões que um dia fizeram parte de ti e que agora, quando paras e as observas, não te fazem qualquer sentido. Procuras as prateleiras mais altas (de ti) e é lá que as guardas. No alto, distantes, fora do teu campo de visão.
E mesmo que outros achem que abdicar do que tantos gostavam de ter, renunciar onde outros gostavam de estar é a maior parvoíce que fazes na vida, percebes, com uma certeza tão clara, que o verbo que conjugam não é o que queres sentir no equilíbrio de ti: ter. Que tudo o que procuras e que queres continuar a aprender todos os dias, é a conjugação certa, mesmo que imperfeita, do verbo ser.
Arrumar coisas que nos causam desconforto, que nos tiram paz, que nos fazem sentir viver o mesmo dia duas vezes, que andam ao teu lado mais pelo ego do que pelo coração, traz-te a paz que queres nos teus dias. 
E tu sabes, aprendes, que a maior conquista da vida é ter paz.
By: Às nove no meu blog

Ontem cheguei em casa e você esperava por mim; a vovó me contou que você disse "A mamãe é meu remédio" e nos abraçamos em silêncio até a febre passar. Por trás de seus olhinhos abatidos senti a sinceridade de suas palavras, e o calor de suas mãos presenteou meu pescoço. Se o céu existe, ele cabia no conforto daquele abraço. Essa sensação dormiu comigo mesmo sendo dia dos namorados e você lutando contra uma virose. Desde que me descobri mãe todos os papéis ficaram em segundo plano, mas como não me sentir recompensada depois de ouvir uma frase dessas? Sei que vou guardá-la por muito tempo, talvez por toda a vida, e me agarrar à sua poesia quando você crescer e for um homem feito, cheio de preocupações e responsabilidades.
Porque você ainda é um menino de seis anos e eu ainda posso ser o seu remédio, mas a vida vai lhe mostrar que não sou perfeita, que tenho falhas, desvios e manias, que não possuo varinha de condão nem respostas pra tudo, que a dipirona tem propriedades maiores que minha presença, que não sou digna de ser seu espelho porque meus erros serão fatalmente identificados por você no futuro para que não os repita com seus próprios filhos.
Mas não tem importância, hoje trato de aproveitar cada segundo ao seu lado, gravando na pele a sensação de seu corpo arredondado, sua risada farta e barulhenta, o toque de suas mãozinhas no meu cabelo_ que você insiste em arrumar num rabo de cavalo lateral_ ,seu cheiro principalmente quando corre e fica com o cabelinho suado, sua respiração profunda quando adormece. Essas são minhas relíquias, tesouros escondidos numa porção extensa do coração, consolo para os dias ruins e saudades futuras...
By: A soma de todos os afectos

Amo-te infinitamente

Tua mãe

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