Hoje em Portugal é feriado. E espero mesmo que seja sempre. E espero que nunca ninguem se esqueça deste feriado.
Hoje é 25 de Abril. E faz 40 anos que Portugal podia ter visto a morte sair à rua na revolução dos cravos... mas não foi assim... e quem saiu à rua foi a vida e a liberdade.
Não te vou aqui falar hoje das razões para a revolução de Abril, nem como Portugal mudou em 40 anos, nem em como nem tudo é liberdade, nem todas as conquistas de abril foram efectivas, como nem tudo o que veio depois desse dia foi bom. Ponto.
Sabes que sempre me comove pensar nesta revolução há 40 anos. Sempre.
Em especial ao ver imagens desse dia, das pessoas desse dia, com roupas diferentes das de hoje, com bigodes e cortes de cabelo da altura, sem saberem se iam ver o sol nascer no dia seguinte, sem saberem se ia ter sucesso o que afinal teve. Admiro muitissimo o Capitão Salgueiro Maia, tinha 29 anos na altura e pegou em carros armados da 2ª Guerra Militar e em soldados com 15 dias de formação que fugiriam ao primeiro tiro e veio para Lisboa fazer uma revolução. Penso em todos os homens e mulheres sem nome que fizeram uma revolução sem mortos, sem tiros, penso em quem podia ter disparado e não o fez, penso em quem de frente para os canhões não fugiu, penso nas pessoas ... pessoas como eu e tu que tiveram CORAGEM. Penso em jovens como na altura eram o teu avô Francisco e o teu tio avô José, que foram combater para Africa... imaginas como foi horrivel, jovens que tinham sonhos filho, sonhos que não passavam por tiros e emboscadas, jovens que queriam ter filhos, e ser felizes e serem quem queria ser.... e foram ....
Hoje o que te quero falar aqui é sobre isso mesmo.... para mim hoje faz 40 anos que o melhor de Portugal se mostrou em Lisboa. A coragem saiu à rua. A coragem foi sempre o que me comoveu. A coragem de dizer basta! Chega! Agora vai ser de outra maneira.
É um exercício um pouco inútil ...mas eu penso muitas vezes o que teria eu feito se tivesse 29 anos na altura. Penso muitas vezes se teria tido a coragem que esses Capitães tiveram ... ou se simplesmente teria continuado na minha vidinha.
Penso nisso nos dias que passam... em que tambem me é pedido coragem e que eu nem sempre sei se a tenho.
Para mim que nasci no ano da revolução custa ver que talvez seja tempo de dizer basta. Mas onde está a coragem?
Neste dia penso sempre em como é maravilhoso ter nascido num pais como Portugal que além de lindo foi construido por homens que uma madrugada sairam de casa em Santarém e foram a Lisboa acabar com o estado a que as coisas haviam chegado.
Saltar sem rede. Totalmente. Como entrar numa caravela de antigamente e ir onde ninguém tinha ido antes.
Mesmo
O que te queria dizer .... é que a coragem de não se acomodar ... oh meu Deus a coragem de ir contra a corrente... "tudo é possivel uma vez feito".... mas fazê-lo....
Tu és Português. Nunca tenhas medo de dizer o que pensas, de fazer o que pensas certo, de com coragem e determinação ires onde queres ir. Tu és Português
Maiakovski, poeta russo escreveu, no início do século XX :
Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Maiakovski
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Maiakovski
Depois Bertold Brecht escreveu:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Em 1933 Martin Niemöller criou o seguinte poema:
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
Martin Niemöller, 1933 – símbolo da resistência aos nazistas.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
Martin Niemöller, 1933 – símbolo da resistência aos nazistas.
Em 2007 Cláudio Humberto presenteou-nos assim:
Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…
Cláudio Humberto, em 09 Fevereiro de 2007
Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho…
Cláudio Humberto, em 09 Fevereiro de 2007
Também Martin Luther King disse: “O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética… o que mais me preocupa é o silêncio dos bons!”.
Até quando o silêncio? Uma sociedade pobre é aquela que não exerce os seus direitos, é aquela que se acomoda e que tenta enriquecer à custa da luta dos outros?
Ser CIDADÃO é sobretudo é ser pessoa, é ter direitos e deveres, é assumir as suas liberdades e responsabilidades numa sociedade democrática, justa, equitativa, solidária e intercultural.
Ser CIDADÃO não é uma tarefa cómoda. As pessoas não nascem cidadãos. Fazem-se ao longo da vida, através da educação e das suas vivências que lhes permitam cimentar valores e princípios éticos e tornarem-se cidadãos participativos e responsáveis.
Ser CIDADÃO é sobretudo é ser pessoa, é ter direitos e deveres, é assumir as suas liberdades e responsabilidades numa sociedade democrática, justa, equitativa, solidária e intercultural.
Ser CIDADÃO não é uma tarefa cómoda. As pessoas não nascem cidadãos. Fazem-se ao longo da vida, através da educação e das suas vivências que lhes permitam cimentar valores e princípios éticos e tornarem-se cidadãos participativos e responsáveis.
"Liberdade, irmã da Dignidade. Coisa de coluna, de olhar em frente sem gente a ganhar-nos o peso nos ombros. A dignidade de ter o mínimo da dignidade e liberdade para mais que isso.
Espaço.
Carreiro onde seja possível andar e impossível espezinhar. O fim da selva sem cérebro e sem coração. Poder ir ao dentista sem ser rico. Não permitir que os idosos andem permanente aos caídos depois de suarem toda a vida. Não permitir que crianças sofram em orfanatos a maior parte das suas vidas, olhadas como se escolhe um cão, e depois achar que só heterossexuais podem dar provas de as poder SALVAR e amar. A dignidade de nunca mais voltar a ouvir a frase: "ah que trabalho tãooo giro. E pagam?".A liberdade de não aceitar penhoras quando o Estado permite que nada se tenha e tudo se pague. A liberdade de poder não ter vergonha de viver num país tão belo, conhecido pelos poetas que quase sempre passaram fome e ainda passam, pelos escritores e músicos e actores que idem. Pelos jovens médicos que até já fazem voluntariado por causa do número elevadíssimo de doentes, que têm que mandar para casa sem saber se terão dinheiro para pagar a medicação.
Dignidade para que quem está medicado nunca possa parar por falta de dinheiro e quem sabe matar-se, enlouquecer. Liberdade para poder ter a dignidade de pagar uma ida à fisioterapia quando se vive em sítios que só de taxi ou bombeiros - ou então: coxeia, contribuinte, coxeia para sempre.
Liberdade, sempre. De escolher não ter isto.
Festejar a liberdade do dia em que se escolheu agir. Dignidade e 25 de Abril, hoje, já!
Obrigada Capitães e pessoas que agiram no dia!"
By: Filipa Teles de Carvalho
25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
In " O nome das coisas"
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
In " O nome das coisas"
Viva a liberdade! Viva a tua liberdade e a de todos de se cumprirem!
Amo-te infinitamente
Tua mãe que nasceu depois de Abril e que tenta (e falha e tenta de novo e falha e tenta de novo) lutar pela tua vida do amanha ...
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