Amado filho
Um dia talvez me faças essa pergunta: quem é
Deus para ti?
É uma pergunta que me fiz muitas vezes. É uma
pergunta que se faz quando se procura saber o nosso lugar e o nosso caminho na
vida espiritual.
Quem é Deus para mim?
O meu Deus de hoje é bem diferente do meu
Deus de há anos atras e provavelmente será um Deus diferente do Deus do meu
futuro.
O Deus que a avó Júlia e o avô Francisco me
apresentaram foi o meu Deus de criança. Era já Cristo ressuscitado, mas um Deus
“policia” que servia para de algum modo ser a consciência que as crianças e os
jovens não têm (ou tem pouco) e era o Deus do não fazer o mal, do ser bonzinho,
do não roubar, do não mentir. Depois passou pela fase do Deus “pai-natal” ou
como lhe gosto de chamar Deus “menu de restaurante” aquele Deus a quem pedidos
coisas: “que o exame corra bem”, “que a dor passe”, “que eu ganhe o
euro-milhões” … sei lá o Deus de pedir.
Depois passei por uma fase em que procurei e
estudei os Deuses que não o Cristo ressuscitado, os outros Deuses das outras
pessoas do mundo. Estudei o Corão, li a Tora, fui ter catequese à mesquita, fui
à sinagoga, falei com evangélicos, adventistas, tibetanos, com ateus, com agnósticos
enfim questionei o Cristo ressuscitado à luz das outras fés do mundo. E aprendi
muito. Aprendi que Deus é um só mas com muitas formas. Que Deus é bom é
maravilhoso. Que todas as crenças do mundo devem ser respeitadas que te todas
se tiram grandes lições de vida.
O meu Deus hoje quem é afinal?!
O meu Deus é o Jesus Cristo é filho de Deus é
Deus ressuscitado é amor puro. É o Deus de Santo Inácio é o Deus que Santo
Inácio descreve no “Principio e Fundamento”: “O homem é
criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a
sua alma. E as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para
que o ajudem a alcançar o fim para que é criado. Donde se segue que há-de usar
delas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim, e há-de privar-se delas tanto
quanto dele o afastem.
Pelo que é necessário
tornar-nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo
que depende da escolha do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido. De tal
maneira que, de nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que
pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e assim por diante em tudo o
mais, desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduz ao fim para que somos
criados.”
O meu Deus é o Deus da
eucaristia, mas é também um Deus que é maior que a eucaristia.
O meu Deus é o Deus do meu
exame de consciência diário (conforme te expliquei num outro texto já lá a trás)
porque é na avaliação das minhas ações e comportamentos diários que eu seu se
caminho em consolação ou em desolação, é da avaliação diária que a minha
conversa com Deus acontece.
O meu Deus não é o Deus de
muitos Pais-Nossos e muitas Ave-marias. Ou melhor… vou explicar, rezar o terço
é muito importante mas nunca confundas rezar que é conversar com repetir
orações que devem servir apenas de “olá” e “adeus”… quando conversas com um
amigo não passas o tempo todo a dizer ola e adeus pois não? Olá e adeus é isso
mesmo Pais-Nossos e Ave-marias. Rezar é agradecer, fazer perguntas e ouvir as
respostas.
O meu Deus é o Deus que eu
encontro no silêncio mas que não me dá silêncio. O meu Deus é o Deus que quando
eu faço perguntas sempre me dá respostas, o meu Deus não acha que o “silêncio”
é uma resposta. O silêncio nunca é resposta as tuas perguntas. O meu Deus
responde a todas as minhas questões mesmo que eu repita varias vezes a mesma
pergunta.
No silêncio diário das
minhas orações no exame de consciência quando eu sou mesmo eu é nessas alturas
que o meu Deus conversa comigo.
Nunca lhe peço nada. Para
quê? Pedir é em restaurante quando há alternativas e eu escolho o que penso ser
melhor para mim arriscando-me a comer “gato por lebre”… Deus sabe quem eu sou
antes de eu saber quem era, Deus conhece o meu caminho Deus sabe o que é melhor
para mim… mesmo que eu pense e saiba que os desígnios de Deus são intangíveis (que
são mesmo) ele sabe exatamente o que eu preciso o que eu tenho de aprender e
onde eu devo estar. Por isso pedir o que? Quem pede “brinca de Deus” brinca de
fazer o mapa quando Ele é que o tem. Eu só peço coragem para o caminho, força
para aprender e confiança Nele. Confiança significa aquilo que Santo Inácio diz
com “indiferença inaciana” que é expor as opções pedir conselho sem atribuir
nas opções valores, gosto pessoais, vontades. É ser e dizer “faça-me como Tu
queres e só como tu queres” e dai me forças para aprender e coragem para
agradecer. Esse é o meu Deus.
É um Deus que se faz
presente mesmo quando eu penso que ele me abandonou totalmente. É um Deus tão
meu amigo tão meu amigo que sempre me mostra o caminho do MAIS o caminho do ser
melhor que “bonzinho” com ser MAIS ser e cumprir o meus “talentos” ou seja
cumprir o melhor que Deus me deu é ser o melhor que conseguir ser em tudo. Melhor,
meu filho não tem honras nem honrarias associadas não é nada disso ser o MAIS
ser o melhor que posso ser é cumprir o bem que Deus pós em mim para o “amar e
servir”, é usar o que tenho dentro de mim para cumprir o melhor que posso ser.
E esse melhor não é “para mim” num sentido egoísta e pequenino é o melhor para
a minha alma para mim como ser de Cristo alma de Deus.
Rezar para agradecer esse é
o meu Deus… o Deus que tudo o que me dá é bom mesmo que eu me revolte com ele
mesmo que eu me zangue com ele…. eu só vejo a estrada à minha frente ele vê o
caminho completo. O meu Deus não se zanga por eu me zangar com Ele.
Nunca deixa uma pergunta sem
resposta nunca se esconde atras de silêncios mas encontra-me sempre no silêncio.
Na tua vida vais ter muitos
Deus, vais-te cruzar com os Deus de muitas pessoas. Mas este é o meu Deus.
O meu Deus é o Deus do texto
“Pegadas na areia”.
“Uma noite eu tive um sonho.
Sonhei que estava a andar na praia com o
Senhor
e a minha frente, passavam cenas da minha
vida.
Para cada cena que se passava, percebi que
eram deixados
dois pares de pegadas na areia;
Um era meu e o outro do Senhor.
Quando a última cena da minha vida passou
Diante de nós, olhei para trás, para as
pegadas
Na areia e notei que muitas vezes, no caminho
da
Minha vida havia apenas um par de pegadas na
areia.
Notei também, que isso aconteceu nos momentos
Mais difíceis e angustiosos da minha vida.
Isso entristeceu-me muito, e perguntei
Então ao Senhor.
" Senhor, Tu disseste-me que, uma vez
que eu resolvi seguir Te, Tu andarias sempre
comigo, Durante a minha caminhada , notei que
nos momentos mais Difíceis da minha vida
havia apenas um par de pegadas na areia.
Não compreendo porque nas horas que mais
necessitava de Ti, Tu me deixastes."
O Senhor respondeu-me:
"- Meu Irmão. Eu Amo te e
jamais te deixaria nas horas da tua prova
e do teu sofrimento.
Quando vistes na areia, apenas um par
de pegadas, foi exatamente aí que EU,
Te carreguei nos braços..."
Explique-te quem é o meu Deus?
Amo-te muito amo-te como um pêssego em agosto
lindo sumarento esplendido.
Deixo-te ainda uma meditação sobre estes assuntos
que hoje te apresento.
“Meditação sobre o “Princípio e Fundamento”
por Luiz Beltrão*
Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de
Loyola começam propriamente com uma meditação intitulada Princípio e Fundamento
– P&F. Trata-se de um texto curto e direto, porém denso em significado e
conteúdo. Proponho uma breve meditação sobre esse tema que nos abre a porta
para o fascinante e encantador itinerário espiritual desenvolvido e
experimentado pelo fundador da Companhia de Jesus.
O início do P&F se dá com estas palavras:
“O homem foi criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e
assim salvar a sua alma”. Logo chama atenção a teleologia, o sentido, o
propósito da criação. Há uma intencionalidade na ação criadora de Deus. O homem
é criado para, logo ele não é o fim, o projeto-alvo, mas deve se situar na
perspectiva do plano de Deus. A finalidade de toda a criação é convergir para o
seio da Trindade, onde haverá plena participação e comunhão em Deus que é vida
e comunicação. E o homem participa desse processo no qual é particularmente
convidado a contribuir com sua inteligência e criatividade na condução da
criação para esse mesmo fim.
Vejamos, agora, o sentido de cada uma das
palavras.
A expressão louvar implica a atitude de atenção, de admiração, de contemplação,
de espanto e de encantamento em relação ao Absoluto. Não se trata de temor, mas
de maravilhamento diante da beleza, da majestade e da ternura infinitas de Deus
que, do alto de sua glória, decide livremente a tudo criar e convidar a
participar consigo de Sua plena felicidade. O encantamento exige prestar
atenção, parar, se admirar, se enamorar por Deus e por sua obra. Implica
silêncio, escuta, pausa, atitudes pouco valorizadas em nossa sociedade que
privilegia a pressa e as relações efêmeras e superficiais.
Adivirta-se que a mesma atitude de
encantamento carrega, inevitavelmente, um outro lado, como que a outra face de
uma mesma moeda. Trata-se da atitude de indignação, quando a realidade criada
por Deus é aviltada e pervertida em seus propósitos. Se, de um lado, o louvor
tende a elevar os olhos aos céus, num gesto de completo extasiamento, por outro
viés esses olhos necessitam permanecer sempre abertos e atentos à realidade,
para que a glória de Deus atinja, de fato, todos os recantos que o homem possa
influenciar. A indignação é a chama que arde e que consome o ser humano,
impelindo a reorientar a Glória e a Justiça de Deus que deixaram de ser
percebidas e contempladas em determinada realidade. Em suma, o louvor no
P&F implica reconhecer dócil e ternamente a Deus como a meta mais além para
a qual toda existência se projeta, sobre o que importa a participação e a colaboração
inflamadas do próprio homem.
Em seguida, há o reverenciar. Por meio da reverência, o cavaleiro ou o servo se
curvam, se prostram diante de seu senhor e a ele se tornam disponíveis. Em
Santo Inácio o reverenciar se relaciona com essa atitude de acolhimento
humilde, de se colocar à disposição, de se dobrar à vontade do Outro, se
conformando com o Seu querer. É a postura de quem se deixa plasmar e moldar sem
reservas pelas mãos de Deus, como o barro nas mãos do oleiro (Jr, 18,1-6). A
reverência obriga o silêncio, a fim de que se escute com atenção a essa outra
voz, que chama o servo a servir. Pois muitas vozes se fazem presentes na mente
atribulada e acelerada do homem moderno. Reverenciar significa reconhecer que
não podemos atingir nossa felicidade sozinhos, que nosso coração só encontra
pouso e sentido na voz de um Outro que é mais interior que o mais íntimo de nós
mesmos (Santo Agostinho, Confissões).
Há, depois, o servir. Tendo prestado atenção,
se embevecido de encantamento e amor por Deus, internalizado Sua vontade, se
deixado moldar por Suas mãos e se disposto a fazer o que Ele quer, resta ao
servo partir e colocar em prática a vontade de Deus. O serviço implica ao
peregrino entrar de modo consciente e ativo na ciranda da existência, no bonde
da história, acrescentando a essa sinfonia o seu timbre próprio, cooperando com
Deus na Sua obra para que tudo se potencialize, se harmonize, cumpra o seu fim
e se encontre em Deus. Servir a Deus é se afinar ao Seu projeto de levar a
história à plenitude, onde todos tenham vida em abundância. Jesus deu a esse
projeto o nome de Reino de Deus; esta deve ser a nossa bandeira, a nossa causa,
pois são a causa e a bandeira de Jesus.
No fim da primeira frase do P&F Santo
Inácio diz: “e assim salvar a sua alma”. Há muitas acepções para o termo
salvar, mas aproximam-se do que nos parece razoável os significados de livrar
do perigo, levar a um lugar seguro. Mais precisamente, tem a ver com encontrar
pouso, repouso, lugar onde se fica em paz, em segurança, em harmonia. Salvar,
nesse sentido, tem a conotação de completar-se, de plenificar-se, de encontrar
sentido, o que só ocorre em Deus. Salvar é imprimir significado à existência,
cuja meta só pode ser o coração de Deus, onde tudo se completa, se integra, se
harmoniza.
As três expressões, louvar, reverenciar e servir, apenas têm sentido se se imbuírem uma
da outra. São diferentes matizes de um mesmo feixe de luz. O louvor,
relacionamento amoroso, apenas tem sentido se encontra ouvidos atentos e almas
dispostas a se deixarem moldar por esse amor, o que necessariamente implica
transbordamento em ação-serviço. A reverência só é verdadeira se brota de uma
experiência amorosa (louvor) e apenas é válida se se torna concreta em gestos
de disponibilidade e doação. O serviço só é digno e fecundo se é decorrência da
plena apropriação e total identificação com os planos e vontades de Deus que
deverão ser construídos, o que ocorre apenas após uma profunda reverência e
conformidade amorosa de quem se deixou amar e envolver pelo Senhor. E tudo isso
é o que significa salvar a alma, dar-lhe pouso, sentido, completude e paz.
Indiferença
amorosa
Tudo é criado para o fim, que é Deus mesmo.
Esse para indica processo, percurso, caminho. Ao longo desse itinerário tudo se
encontra em movimento, numa dança evolutiva, em busca de sínteses cada vez
maiores e mais complexas. Formamos, toda a existência, uma grande família, uma
magnífica sinfonia, uma maravilhosa teia que terá sua consumação plena e
definitiva em Deus. Em relação a essa teia não nos cabe isolar-nos. É
imperativo o relacionamento, a interdependência, a comunicação, a comunhão e a
solidariedade, pois ninguém é auto-suficiente.
O “problema” está em como nos relacionamos
com as demais criaturas, aí incluídos os nossos sentidos, nossa corporeidade,
nosso temperamento, nossa personalidade. Perigo é fazer desses dons de Deus,
que são meios para encontrá-Lo, fins em si mesmos. Pois se o fizermos estaremos
limitando nossa potencialidade, desvirtuando o sentido original das coisas,
abrindo mão de nos realizarmos a nós mesmos, como cooperadores de Deus, e de
realizarmos Seu projeto. Mais grave é que ao colocarmos tais coisas como meta,
como propósito, nos fazemos escravos delas e, para piorar, escravizamos nossos
irmãos.
Nesse relacionamento obrigatório com a
criação, é imperioso que usemos das coisas com sabedoria e liberdade, desapego
e moderação, para que cumpram com sua vocação de “trampolins” para Deus. Santo
Inácio chama a isto de indiferença, termo ao qual poderíamos acrescentar o
adjetivo amorosa. Talvez, melhor que indiferença seria utilizarmos a expressão
liberdade. Pois não se trata, em hipótese nenhuma, de desprezo, mas de ordenar
as coisas, hierarquizá-las, disciplinar as afeições em relação a elas,
colocando-as em seu devido e precioso lugar. Segundo a mística inaciana, todas
as coisas (pessoas, relações, situações e circunstâncias) são epifania de Deus,
pois revelam Sua marca, Sua assinatura. E como únicas têm seu espaço próprio e
devem cumprir, de maneira única, seu papel na nossa história pessoal. Em outras
palavras, cada uma tem um nicho específico e é aí onde deve alcançar sua
plenitude. Devemos dar a cada entidade da criação a atenção, o peso e o valor
que lhes são justos e nada mais. Em outras palavras “guardar delas uma
distância saudável. É a isto que Santo Inácio chama de aproximar-se ou
afastar-se delas, “tanto quanto” for útil para o bem de nossas almas.
Deus nos chama a amadurecer nossas relações,
a começar de dentro de nós mesmos. Importa não darmos maior atenção às pessoas,
aos fatos ou às situações do que o necessário. Como nos custa abrir mão de
melindres, de orgulhos, da sensibilidade excessiva e prejudicial! Quanto tempo
perdemos alimentando mágoas, nos apegando ao que disseram, supostamente disseram
ou pensam de nós! Como nos afeiçoamos a nossos sentimentos e orgulho feridos, a
pessoas e suas impressões!
As relações (com as pessoas, com as coisas,
com os sentimentos) são como árvores: há aspectos que devem ser adubados,
alimentados, potencializados. Mas há outros que devem ser corrigidos,
iluminados, podados ou, até mesmo, extirpados. Discernir a ação correta é
essencial. Toda árvore que der fruto, o Pai a podará para que dê mais fruto
ainda (Jo 15,2). Deus nos quer livres de amarras que literalmente aprisionam
nossa alma, nossa potencialidade de nos realizarmos e cooperarmos para a plena
realização da criação. Essa indiferença amorosa gera desapego, que acarreta
liberdade e, por isso, maior disponibilidade a Deus. Em uma palavra, maior
utilidade para Seu projeto.
Mística
do mais
Se o homem é criado para louvar, reverenciar
e servir a Deus e assim salvar a sua alma e se tudo isso é um processo, uma
caminhada, um percurso, quanto mais nos aproximarmos desse fim, mais completos,
plenos, harmônicos e integrados estaremos. Santo Inácio nos diz para buscarmos
o que mais nos aproxima desse fim. O mais será um termo que muito veremos na
caminhada inaciana.
Para Santo Inácio não basta viver uma vida
“normal”, no sentido de morna, insossa e sensabor. Não significa procurar fazer
o extraordinário, mas viver o ordinário da melhor maneira possível. Um outro
santo disse certa vez: “O bem deve ser bem feito”. Quanto maior, mais
universal, mais generoso e melhor feito for um gesto, melhor será esse agir. Há
que se dosar aí o sentido de humildade, o reconhecimento de nossa imperfeição e
de nossa impotência sem Deus (Jo 15,5). Porém, isso jamais poderá significar a
mediocridade que aliena e que deixa de dar o passo a mais quando este é
necessário.
A cada momento de nossa vida, que é único e
irrepetível, devemos dar mais de nós mesmos, o que significa vivê-la
intensamente e da melhor maneira possível, de modo que não nos arrependamos do
que fazemos ou deixamos de fazer. Viver cada dia como se fosse o último, cada instante
como se fosse o único. Cada pessoa, cada realidade, cada situação exige o
melhor de nós, o passo a mais do peregrino insaciável do Absoluto. Será apenas
na perspectiva desse passo a mais e na misericórdia gratuita de Deus, que nos
alenta em nossas quedas e infidelidades, que poderemos nos sentir plenos e
descansados, que perceberemos nossa alma como salva, tranquila, liberta e em
paz. Longe de nós a desmotivação, a acomodação e a auto-centração que não
transformam. Pois Deus é elã, é movimento, é música que impulsiona a dança,
rumo ao Seu próprio coração, para o qual nos chama.
Em
suma…
Somos criados para manter uma relação de
dependência amorosa para com Deus, uma abertura fecunda e generosa de nossa
parte àquele que é Todo-Generoso e Todo-Ternura. Tal relação se desdobra na
tríplice unidade de louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor. Apenas
assim completamos (salvamos) nossa alma, damos-lhe o devido sentido, o devido
descanso, a devida paz. E devemos nos aproximar das demais coisas tanto quanto
nos ajudem a nos inserirmos e a colaboramos com esse projeto.
Deus, Nosso Senhor, já nos cumulou com toda a
sorte de bênçãos espirituais (Ef 1, 3-14), com tudo aquilo que é necessário
para que atinjamos nosso fim. Afinal, Ele é presença que, desde dentro, em tudo
opera.
Que nada nos desvie dessa meta, mas que tudo
seja usado com liberdade, de maneira ordenada e madura e que possamos cooperar
com Deus para levar a história à sua plenitude, no coração do Pai, onde, enfim,
Deus será tudo em todos.
Trata-se de um longo caminho. Tal perspectiva
é apenas o início, mas uma ótica necessária que deverá fermentar toda a nossa
caminhada. Não por acaso é chamada por Santo Inácio de Princípio e Fundamento.
Tua mãe
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