Meu muito amado filho Estêvão
Dia 11 de Novembro de 2018 celebrou-se o centenário do armistício (04:30 de 11 de novembro de 1918 e entrou em vigor às 11:00, pondo um ponto final na Primeira Grande Guerra). Tanto tempo pensas tu. Sim mesmo e quantas lições não se aprenderam e outras tantas que se aprenderam é certo.
Não é aqui que vai aprender sobre o que foi a primeira guerra mundial um dia falamos sobre isso. Hoje quero falar-te do meu bisavó ele combateu nessa guerra.
Tenente Coronel José Maria Pinto da Fonseca de seu nome, oficial farmacêutico que combateu na Batalha de La Lys. Nunca o conheci. Nunca. Mas ele partiu no CEP (Corpo Expedicionário Português) ou como se dizia na altura carne de exportação Portuguesa. Voltou vivo mas nunca mais dormiu, essa guerra era uma guerra de trincheiras e era usado gás neurotóxico e isso fez isso mesmo que ele nunca mais dormisse. Recebeu a medalha da vitória por isso mesmo. Medalhas pesam muito sabes filho? Ou como se dizia na altura pesam muito mademoiselles!
Foi o autor da primeira farmacopeia portuguesa que é uma obra linda que pode ser vista no museu nacional da farmácia. Era membro da maçonaria, membro do Grande Oriente Lusitano, no ultimo ano fiz um grande trabalho de pesquisa sobre a passagem dele pela maçonaria e aprendi muito sobre maçonaria e sobre ele principalmente. Um dia se quiseres posso mostrar-te tudo o que aprendi. Quando morreu pediu para ser enterrado no talhão dos combatentes no cemitério do Alto de São João em Lisboa e lá está ao lado dos soldados como ele.
Era um homem muito à frente do seu tempo, um modernista como o chamaram.
No dia 14 de abril desde há muitos anos lembro-o levando flores monumento à Grande Guerra ou se estiver longe lembro-o a ele e a todos os portugueses que tantos sacrifícios fizeram nessa e noutras guerras.
Sempre pela paz sou e serei mas deixo-te aqui um pequeno texto de base se quiseres saber mais sobre a Batalha de La Lys.
A
Batalha de La Lys (7 a 29 de abril de 1918) foi uma enorme ofensiva militar
alemã focada ao norte da fronteira franco-belga, na região da Flandres, durante
a Primeira Grande Guerra. Também conhecida como Operação Georgette, Ofensiva do
Lys, Quarta Batalha de Ypres, Quarta Batalha da Flandres e Batalha de Estaires,
fez parte da chamada Ofensiva de Primavera, onde os alemães pretendiam romper
as linhas Aliadas de uma vez por todas na Frente Ocidental europeia. Foi
planejada pelo general Erich Ludendorff e de início teria um alcance bem maior,
mas acabou sendo reduzida em escala. Parte dos planos era tomar de vez a região
de Ypres e expulsar os britânicos dos portos belgas. Foi lançada como uma
sequência a Operação Michael, também travada no contexto da Ofensiva de
Primavera alemã. No final, a Operação Georgette acabou falhando em seus
objetivos principais e terminou sendo inconclusiva para os alemães no quadro
geral da guerra, dando vantagem tática aos Aliados.
Nesta
batalha, que marcou negativamente a participação de Portugal na Primeira Guerra
Mundial, os exércitos alemães infligiram uma pesada derrota às tropas
portuguesas, constituindo o maior desastre militar português depois da batalha
de Alcácer-Quibir, em 1578.
A
frente de combate distribuía-se numa extensa linha de 55 quilómetros, entre as
localidades de Gravelle e de Armentières, guarnecida pelo 11.º Corpo Britânico,
com cerca de 84 000 homens, entre os quais se compreendia a 2.ª divisão do
Corpo Expedicionário Português (CEP), constituída por cerca de 20000 homens,
dos quais somente pouco mais de 15000 estavam nas primeiras linhas, comandados
pelo general Gomes da Costa (que mais tarde conta as memórias deste
acontecimento em A Batalha do Lys (1920) no qual descreve a organização do
C.E.P. e os seus dispositivos e enuncia os episódios prévios à Batalha). Esta
linha viu-se impotente para sustentar o embate de oito divisões do 6.º Exército
Alemão, com cerca de 55 000 homens comandados pelo general Ferdinand von Quast
(1850-1934). Essa ofensiva alemã, montada por Erich Ludendorff, ficou conhecida
como ofensiva "Georgette" e visava à tomada de Calais e
Boulogne-sur-Mer. As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha na
madrugada e manhã de 9 de Abril, teriam registado milhares de baixas, entre
mortos (1341), feridos (4626), desaparecidos (1932) e prisioneiros (7440). De
acordo com estudos recentes, porém, esses números estariam muito inflacionados.
Segundo um autor, em La Lys ter-se-ão registado apenas 423 mortos portugueses
(de um total de 2086 mortos do Corpo Expedicionário Português em 1917-1918) e
cerca de 6000 prisioneiros. Outro autor refere apenas 300 mortos e 6000 prisioneiros
portugueses em La Lys.
Entre
as diversas razões para esta derrota tão evidente têm sido citadas, por
diversos historiadores, as seguintes:
A
revolução de dezembro de 1917, em Lisboa, que colocou na Presidência da
República o Major Doutor Sidónio Pais, o qual alterou profundamente a política
de beligerância prosseguida antes pelo Partido Democrático.
A
chamada a Lisboa, por ordem de Sidónio Pais, de muitos oficiais com experiência
de guerra ou por razões de perseguição política ou de favor político.
Devido
à falta de barcos, as tropas portuguesas não foram rendidas pelas britânicas, o
que provocou um grande desânimo nos soldados. Além disso, alguns oficiais, com
maior poder económico e influência, conseguiram regressar a Portugal, mas não
voltaram para ocupar os seus postos.
O
moral do exército era tão baixo que houve insubordinações, deserção e
suicídios.
A
grande diferença numérica entre as forças portuguesas e as alemãs.
O
armamento alemão era muito melhor em qualidade e quantidade do que o usado
pelas tropas portuguesas o qual, no entanto, era igual ao das tropas
britânicas.
O
ataque alemão deu-se no dia em que as tropas lusas tinham recebido ordens para,
finalmente, serem deslocadas para posições mais à retaguarda.
As
tropas britânicas recuaram em suas posições, deixando expostos os flancos do
CEP, facilitando o seu envolvimento e aniquilação.
O
resultado da batalha já era esperado por oficiais responsáveis dentro do CEP,
Gomes da Costa e Sinel de Cordes, que por diversas vezes tinham comunicado ao
governo português o estado calamitoso das tropas.
No
entanto, é de realçar o facto de a ofensiva "Georgette" se tratar
duma ofensiva já próxima do desespero, planeada pelo Alto Comando da Alemanha
Imperial para causar a desorganização em profundidade da frente aliada antes da
chegada das tropas norte-americanas, que nessa altura se encontravam prestes a
embarcar ou já em trânsito para a Europa.
O
objectivo do general Ludendorff no sector português consistia em atacar
fortemente nos flancos do CEP, consciente que nesse caso os flancos das linhas
portuguesa e britânica vizinha recuariam para o interior das suas zonas
defensivas respectivas em vez de manterem uma frente coerente, abrindo assim
uma larga passagem por onde a infantaria alemã se pudesse lançar. Coerente com
essa táctica e para assegurar que os flancos do movimento alemão não ficassem
desprotegidos, os estrategas alemães decidiram-se a simplesmente arrasar o
sector português com a sua esmagadora superioridade em capacidade de fogo
artilheiro (uma especialidade alemã), e deslocando para a ofensiva um grande
número de efectivos como se explica acima, (nas palavras dos próprios:
"Vamos abrir aqui um buraco e depois logo se vê!", o que também
indicia o estado de espírito já desesperado do planeamento da ofensiva). Nestas
condições, não surpreende a derrocada do CEP, que apesar de tudo resistiu como
pôde atrasando o movimento alemão o suficiente para as reservas aliadas serem
mobilizadas para tapar a brecha.
Esta
resistência é geralmente pouco valorizada em face da derrota, mas caso esta não
se tivesse verificado a frente aliada na zona poderia ter sido envolvida por um
movimento de cerco em ambos os flancos pelo exército alemão, o que levaria ao
seu colapso. Trata-se de uma batalha com muitos mitos em volta a distorcerem a
percepção do realmente passado nesse dia 9 de Abril de 1918.
Uma
situação análoga à da batalha de La Lys foi a da contra-ofensiva alemã nas
Ardenas na parte final da Segunda Guerra Mundial, a (Batalha do Bulge), que
merece comparação pelas semelhanças entre ambas. Novamente um exército aliado
escasso para defender o sector atribuído ao I Exército dos Estados Unidos),
sujeito a uma ofensiva desesperada por parte do Alto Comando Alemão (OKW -
Oberkommando der Wehrmacht), para desorganizar a frente aliada arrombando-a em
profundidade, usando para o efeito quatro exércitos completos (dois blindados)
para atacar no sector do I exército norte-americano. A consequência foi o
colapso local da frente, com retirada desorganizada dos americanos e com
milhares a serem feitos prisioneiros pelos alemães, contido depois com as
reservas aliadas (incluindo forças sobreviventes da Batalha de Arnhem ainda em
recuperação como a 101.ª e a 82.ª divisões aerotransportadas) e com o desvio de
recursos de outros exércitos aliados nas regiões vizinhas (com destaque para o
III Exército do general Patton), obrigando a passar duma situação de ofensiva
geral aliada à defesa do sector das Ardenas a todo o custo. Os aliados só
retomariam a iniciativa na frente ocidental passado mais de um mês.
Comparando-se
ambas compreende-se melhor a derrocada das forças do CEP em La Lys.
A
experiência do Corpo Expedicionário Português no campo de batalha ficou
registada na publicação João Ninguém, soldado da Grande Guerra, com ilustrações
e texto do capitão Menezes Ferreira. Pela sua parte, Adelino Delduque da Costa,
Coronel de Infantaria, feito prisioneiro pelas tropas alemãs a 9 de abril de
1918, escreveu durante oito meses e meio de cativeiro sob forma de diário entre
os campos de Rastatt e Breesen as suas Notas do cativeiro, um dos mais vivos
relatos dos acontecimentos que seguiram a derrota portuguesa, assim como das
precárias condições em que houve de sobreviver os oficiais portugueses
aprisionados na Alemanha. Além destas, várias foram as obras editadas que têm
como pano de fundo o mais sangrento episódio da participação portuguesa no
conflito, nomeadamente: Flandres: notas e impressões de Costa Dias (1920) [9] e
A 2ª Divisão Portuguesa na Batalha do Lys (1924) pelo Major Vasco de Carvalho
com prefácio do general Fernando Tamagnini.
As
cerimónias da comemoração do aniversário da Batalha de La Lys têm lugar,
habitualmente, todos os anos no Mosteiro de Santa Maria da Vitória - Batalha
(Leiria) num dos primeiros fins de semana de Abril, com a presença dos vários
ramos das forças armadas portuguesas, entre outras entidades.
No final,
a ofensiva alemã acabou perdendo força e com a chegada de reforços franceses no
fim de abril, os militares alemães começaram a sofrer perdas consideráveis.
Perdendo a iniciativa, em 29 de abril o Alto Comando Alemão cancelou a Operação
Georgette e desautorizou novas ofensivas naquele setor. Em um estudo feito em
2002, Marix Evans estimou as perdas alemãs em 109 300 (entre mortos, feridos e
desaparecidos). Os britânicos perderam 76 300 homens e 60 aeronaves, enquanto
os franceses registraram 35 000 baixas em combate. Já Portugal contabilizou
oficialmente 400 mortos e 6 600 homens feitos prisioneiros.
O
soldado Milhões
Nesta
batalha a 2.ª Divisão do CEP foi completamente desbaratada, sacrificando-se
nela muitas vidas, entre os mortos, feridos, desaparecidos e capturados como
prisioneiros de guerra. No meio do caos, distinguiram-se vários homens,
anónimos na sua maior parte. Porém, um nome ficou para a História, deturpado,
mas sempiterno: o soldado Milhões.
De seu
verdadeiro nome Aníbal Augusto Milhais, natural de Valongo, em Murça, viu-se
sozinho na sua trincheira, apenas munido da sua menina, uma metralhadora Lewis,
conhecida entre os combatentes lusos como a Luísa. Munido da coragem que só no
campo de batalha é possível, enfrentou sozinho as colunas alemãs que se
atravessaram no seu caminho, o que em último caso permitiu a retirada de vários
soldados portugueses e britânicos para as posições defensivas da retaguarda.
Vagueando pelas trincheiras e campos, ora de ninguém ora ocupados pelos
alemães, o soldado Milhões continuou ainda a fazer fogo esporádico, para o qual
se valeu de cunhetes de balas que foi encontrando pelo caminho. Quatro dias
depois do início da batalha, encontrou um major escocês, salvando-o de morrer
afogado num pântano. Foi este médico, para sempre agradecido, que deu conta ao
exército aliado dos feitos do soldado transmontano.
Regressado
a um acampamento português, um comandante saudou-o, dizendo o que ficaria para
a História de Portugal, "Tu és Milhais, mas vales Milhões!". Foi o
único soldado raso português da Primeira Guerra a ser condecorado com o Colar
da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta
condecoração existente no país.
Amo-te infinitamente
Tua mãe
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