domingo, 29 de abril de 2018

662 - As vezes é preciso (até obrigatório) desobedecer

Meu muito amado filho Estêvão

Uma das coisas que mais gostava e gosto, ainda hoje, é de ouvir "os antigos", a minha avó paterna, avó materna, tios, tias, mãe, pai etc contaram-me coisas sobre as minhas pessoas "lá de trás". Essas histórias são os teus e meus tijolos genéticos, históricos e de amor. Nós somos hoje o que os outros fizeram e eram lá atrás. Adorei saber que o meu bisavó combateu e sobreviveu à batalha de La Ly, gostei de saber que um dia o meu avô deu uma aula de 8 horas para evitar que um aluno no IST fosse preso pela PIDE, ainda hoje choro a pensar a coragem que o meu tio e o meu pai tiveram em ir para uma guerra que não era a deles, gostei de ler o que havia escrito sobre os meus familiares nos ficheiros da PIDE, gosto de ouvir histórias sobre os meus apelidos,  sobre os meus e teus antepassados. Gosto e preciso disso.
Temos de fazer o nosso caminho de encontrar e soltar as nossas asas mas nunca esquecer as nossas raízes. Nunca.
Nisso de família há coisas que muitas vezes nos vão fazer pensar e parar. Em família e na vida é preciso ouvir o coração para discernir o caminho a seguir no meio de uma floresta escura e sem indicações, pelo menos sem indicações obvias.
A uma distância de tempo grande, as vezes dias, outras meses outras anos ou décadas ou ate séculos é facil, muito facil perceber o que foi "bem feito" e o que "mal feito". De longe é fácil dizer "como é que aquele homem/mulher não fizeram assim ou assado? De longe, de fora, sentado no conforto de nossa casa é fácil criticar quem fez isto ou aquilo. É muito fácil à luz da moral de hoje criticar ou elogiar atitudes de ontem ou de há séculos.
Mas como se diz em bom português "só sabe o que se passa no convento quem lá está dentro". Antes de julgares alguém seja quem for, tenta viver a vida dessa pessoa um pouco, tenta entender as escolhas, os motivos.
Mas acredita nem sempre vamos entender o que as pessoas lá atrás fizeram, muitas vezes não vamos concordar muitas vezes vamos até sentir alguma coisa bem perto da vergonha, muitas vezes porque achamos errado, outras porque achamos cobarde, outras simplesmente porque denotam maldade.
O que tirar desses momentos, dessas histórias? Lições sempre.
Não há nada que mude o passado por isso temos de aprender lições e não repetir erros. Eu acho que a história e o registo dela é preciosa nisso, registar a nossa história procurar registos verdadeiros do que foi e já não é ajuda a tirar sentido ao que é e ajuda a não ser de novo ou a ser muitas vezes e cada vez mais.
Vou dar te um exemplo há muitos muitos anos a minha avó materna que tinha um apelido diferente do meu e do teu chamava-se "Teotónio Pereira" contou-me que havia um familiar dela que tinha sido diplomata, de nome, Pedro Teotónio Pereira que tinha sido Embaixador de Portugal em Madrid e descreveu na altura de que modo esse senhor familiar da minha avó se havia cruzado com outro diplomata o Consul Aristides de Sousa Mendes que era uma pessoa que a minha avó por variadíssimas razões (que um dia te conto porquê) gostava muito. Já tens ai um trabalho de pesquisa para fazer quem foi Aristides de Sousa Mendes e quem foi Pedro Teotónio Pereira e onde a vida destas duas pessoas se cruzou. Vais perceber então porque te digo muitas vezes que não é porque os outros fazem que nós vamos fazer, que não é porque a maioria faz que esteja correcto. Pensa sempre por ti. Prática o hábito de pensar maior e pensares se estas a fazer algo porque está certo e queres fazer ou porque simplesmente os outros fazem, ou porque és um cobarde e tens medo de mudar de ser diferente.
Já pensaste que um dia a tua vida vai ser historia de alguém lá mais à frente tambem e quem cá fica sempre vai "ler" o que fazemos pela lógica de cada um mas pensa que parte da história queres contar? queres ser o "chibo", o aparentemente correcto, o obediente, o conveniente, o "olhar para o lado", o "deixa quieto"? ou queres ser aquele que não vai com a maré, aquele que faz o que está correcto, o que desobedece, o que ouve a razão, o coração e sim ouve Deus ouve o que tem de ouvir e deixa o resto com a história?
Eu vou amar-te seja quem seja que sejas, que te tornes, que caminho escolhas na vida, sou estar longe ou perto a apoiar-te no que precisares escolhas o caminho que escolhas .... mas espero que nós os dois possamos muitas vezes perceber qual é o caminho fácil que leva a desfechos errados ou o caminho difícil que nós leva à eternidade.
Amo-te infinitamente

Tua mãe

Nenhum comentário:

Postar um comentário

1051- Objectivo de vida

  Meu muito amado filho Estêvão  Ikigai Descobre o teu objetivo na vida. Determine a razão pela qual acorda todas as manhãs. Escolha algo qu...