quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

645 - Porque é que me zango e porque é que não posso permitir a preguiça

Meu muito amado filho Estêvão


Quando me dizes: "Quero dormir mais!", "Hoje não quero ir a escola!", "Porquê tantas regras? Deixa-me fazer o que me apetece!"

Eu não posso deixar. Não posso tolerar a vida sem regras, a vida sem esforço e a vida sem trabalho. Simplesmente não posso e nunca vai acontecer.
Não vai acontecer por duas razões.
Primeira, porque te amo profundamente e por isso mesmo sei o que é melhor para ti e o melhor para ti agora (e sempre) será estudar, trabalhar, acordar cedo, ser útil, sentires que pões a render os talentos que recebeste de Deus. O trabalho não é uma "chatice" o trabalho é fundamental para levarmos a vida para a frente para sermos para nós e para os outros, para teres a tua vida digna. Repara eu não estou a falar em ser "rico" estou a falar em progredir, em ser melhor, em superação, estou a falar em estudar, em trabalhar em ganhar o nosso sem pisar ninguém, sem explorar ninguém, com sabedoria paz e felicidade. A felicidade é mesmo esse caminho o caminho do hoje saber mais que ontem, do hoje poder ajudar mais que ontem do hoje andar para a frente!
Segunda razão, a minha mãe a tua avó ainda hoje trabalha, trabalha porque o trabalho engrandece, porque nos faz bem porque nos completa e preenche, a tua tia Inês fartasse de trabalhar, o teu tio João também, o teu padrinho, a tua madrinha, todos os que contigo convivem. Eu, tua mãe acordo ainda de noite para fazer sopa, para preparar almoços e jantares, para passear a cadela para arrumar a casa para te levar a escola para estar as 8 em ponto a trabalhar para não ter tempo para almoçar porque nesse tempo se tem de ir aqui e ali para depois continuar a trabalhar e a estudar e para ainda ter tempo de ir a correr ler historia, brincar e trabalhar mais porque há pessoas que precisam de nós.

Quando tu me vês, vê uma pessoa que escolhe diariamente, confirma diariamente o amor por ti trabalhando muito mais do que o corpo aguenta para que nunca falte para a tua roupa, para a tua escola, para os teus livros, para o cinema, para comer, para passear, para as ferias, para cada um dos passeios maravilhosos que fazemos, para quando um dia quiseres tirar a carta de condução, ou ir estudar para londres, ou comprar um piano ou viajar durante um ano ou o que seja.

Nunca glorifiques a falta de caracter de quem explora alguém e não trabalha. Não é pelos outros é mesmo e totalmente por ti e para ti.

Deixo te aqui um texto que encontrei de como neste mundo com trabalho e coração bom tudo se faz. Tudo.

Amo-te infinitamente.


Tua mãe.

"Uma história de superação
Ainda no primário, quando o único sapato do ano rasgou e os coleguinhas viram o plástico que cobria o buraco na sola, ela chorou ao contar para o pai que recebeu chutes no pé, e, quieta, enfrentou as risadas. 
Já adolescente, ouviu da mãe de uma colega de turma que, por ser negra, deveria subir no prédio para a visita pelo elevador de serviço. Não chorou. Mas foi embora. 
Aos 14 anos, quando começou a Faculdade de Química na Unicamp, em Campinas, morou sozinha num pensionato e dormiu muitas noites com fome. 
Desistir nunca foi uma opção. Filha de uma empregada doméstica e de um funcionário de um curtume em Franca, no interior de São Paulo, Joana D’Arc Félix de Sousa, de 53 anos, saiu de uma das mais conceituadas universidades do país com mestrado e doutorado. 
Ganhou asas e partiu para os Estados Unidos. Aos 25 anos, era PhD em Química pela Universidade Harvard.
Por conta de problemas familiares, os planos de uma carreira americana foram interrompidos em 1999, quando precisou voltar ao Brasil. 
Desde 2004, faz pesquisa de ponta com alunos da Escola Agrícola de Franca, onde é professora e coordena o curso técnico de curtimento. 
Correu atrás de bolsas de iniciação científica para os estudantes e, com eles, registrou 15 patentes nacionais e internacionais. 
Quer mais? Ganhou 72 prêmios nas áreas de Química e Sustentabilidade.
Os seus inventos são feitos a partir de resíduos de curtume, processo que transforma pele em couro. 
Entre as suas inovações estão cimento ósseo para reconstituir fraturas; colágeno para o tratamento de osteoporose e osteoartrite; sapatos com antimicrobianos para combater micoses e rachaduras no pé; pele humana artificial para transplante utilizando sobras de pele suína; cinco fertilizantes; e até um sistema de filtragem de água aproveitando escamas de peixe.
— Passamos muita dificuldade, mas meus pais sempre acreditaram nos filhos (ela tem dois irmãos). Eles não tinham estudo, mas muita sabedoria para nos inspirar e incentivar. Meu pai sempre dizia que, se eu quisesse ser melhor do que aquele que me humilhava, tinha que estudar. Todas as dificuldades e humilhações só me ajudavam a ter mais força para vencer na vida. E mostro a meus alunos que é assim que eles podem vencer — diz Joana, emocionada.
As lágrimas, que ela conteve desde que o pai lhe deu a lição, hoje caem, incontroláveis, ao olhar para trás e ver o lindo caminho que construiu.
Essa história de superação começou quando Joana tinha apenas 4 anos e acompanhava a mãe no trabalho.
— Minha mãe era empregada doméstica. Para eu ficar quietinha, ela me ensinou a ler o jornal. Eu tinha uns 3 anos. Um dia, a patroa dela, que era diretora de uma escola do Sesi, me viu com o jornal e perguntou se eu estava vendo as figuras. Falei que estava lendo — conta Joana.
A patroa da mãe deu um texto para a pequena ler. Impressionada, propôs que Joana frequentasse a escola por uma semana. Se ela acompanhasse o ritmo, ganharia a vaga.
— E deu certo. Eu comecei a 1ª série do primário, atual ensino fundamental, com 4 anos. Minha mãe, que estudou apenas até a 4ª série, foi minha primeira professora — diz Joana.
Com 14 anos, passou para três universidades
Sempre muito estudiosa, ela concluiu o ensino médio e decidiu que faria Química, apesar de o pai sonhar com uma carreira médica para a filha:
— Morávamos numa casa nos fundos do curtume em que meu pai trabalhava. O químico usava uma roupa branca. Desde pequena, eu era apaixonada por aquele jaleco e dizia: “Quero usar um desses”. No 3º ano do ensino médio, uma professora me explicou o que era o vestibular e ofereceu apostilas de cursinho que haviam sido do filho dela. Eu estudei muito e passei para as três universidades estaduais de São Paulo: Unicamp, USP e Unesp.
Aos 14 anos, Joana, que nunca havia saído de Franca, decidiu ir para a Unicamp, em Campinas:
— Era um bicho do mato, mas nunca deixei minha timidez atrapalhar os meus planos.
Com a ajuda do pai e do patrão dele, ela foi morar num pensionato. O dinheiro dava só para o transporte e uma refeição por dia no bandejão da universidade:
— Guardava o pãozinho para ser o meu jantar.
As dificuldades e humilhações não provocaram em Joana qualquer traço de amargura:
— Passei fome, mas decidi que venceria. A educação é a arma mais poderosa para vencermos os obstáculos. Não temo o racismo, que sempre vai existir. Você vai receber muitos “nãos”. Mas quando ganhar um “sim”, faça o barulho que puder. O problema não pode ser maior que o nosso desejo, não pode nos paralisar. Se desistir, nunca vai chegar lá.
E Joana chegou. Até mais longe do que imaginou. 
Ao concluir o doutorado na Unicamp, teve trabalhos publicados em revistas científicas dos Estados Unidos, o que lhe rendeu um convite para o pós-doutorado em Harvard. 
Seu orientador sugeriu que a tese envolvesse um problema nacional. O pai deu a ideia de trabalhar com resíduos do curtume, passivo ambiental importante para Franca, um polo calçadista que gera 218 toneladas de resíduos por dia.
— Minha intenção era ficar nos Estados Unidos, mas quando estava com um ano e meio de curso, minha irmã morreu. Um mês depois, meu pai também teve um enfarte fulminante. E minha mãe ficou com a guarda dos meus quatro sobrinhos, então com 2 meses, 1, 8 e 9 anos. Terminei o curso e, em 1999, voltei para ajudar. Perdi o chão — conta.
A doutora fez concurso para a Escola Agrícola Técnica Professor Carmelino Corrêa Júnior, onde a maioria dos alunos é, como ela, de origem humilde. 
Levou para a sala de aula sua bagagem de pesquisa e conseguiu bolsas do CNPq e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para os alunos desenvolverem projetos. E reduziu a evasão escolar.
— Joana instiga o estudante a pensar. A escola passou a fazer pesquisa criando produtos. Além disso, ela mostra para a gente um mundo possível, por meio de muito esforço e trabalho. É inspiradora — conclui Cláudio Sandoval, diretor do colégio.
‘A estrela que dá o Norte para a família’
Para a sobrinha-neta Nicolly Neves, de 16 anos, Joana é mais do que isso:
— Ela é a estrela que dá o Norte para a família. Estudo com ela e participo do projeto da pele humana. Meu pai e meus tios também foram seus alunos. Ela nunca diz “isso é impossível”, por mais que uma ideia seja improvável. Quero seguir os seus passos e fazer intercâmbio na Coreia do Sul.
A ex-aluna Angela Ferreira de Oliveira, de 21 anos, hoje cursa faculdade de licenciatura em Química. Trabalhava numa fábrica de calçados o dia todo e estudava à noite. Com Joana, desenvolveu um processo de curtimento que usa, no lugar de produtos químicos tóxicos, vegetais como beterraba e cravo:
— Eu, que nunca pensei em sair de Franca, fui apresentar o projeto em feiras de ciências em Campinas e até nos Estados Unidos. Ganhei prêmios. Ela sempre nos faz acreditar que somos capazes. Joana mudou a minha vida.
A vida de Angela e as de muitos outros jovens.
JURADOS: Alan Gripp (Diretor de Redação); Ancelmo Gois, Ascânio Seleme, Merval Pereira e Míriam Leitão (Colunistas); e Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira (Presidente da Firjan)."

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