465 - Nunca é tarde demais

Meu muito amado filho Estêvão


"Cada experiência por que passamos faz-nos bem... Esta é a atitude corracta a adoptar... e devemos ser capazes de vê-la a essa luz."
Raymond Holliwell


"Há vários anos, quando frequentava um curso de comunicações experimentei um procedimento muito invulgar. O instrutor pediu-nos para fazer uma lista de alguma coisa no nosso passado de que nos sentíssemos envergonhados, culpados, arrependidos ou incompletos. Na semana seguinte convidou os participantes a lerem alto as suas listas.
Parecia um processo muito privado, mas houve sempre um mais corajoso que se ofereceu. À medida que as pessoas liam as suas listas, a minha ia crescendo. Ao fim de três semanas, tinha 101 pontos na minha lista. O orientador sugeriu então que procurássemos maneiras de pedir desculpa às pessoas, de as compensar  ou que tomássemos qualquer atitude para corrigir qualquer coisa mal feita. Estava seriamente duvidosa sobre como iria melhorar as minhas comunicações, tendo perpectivas de alienar quase toda a gente da minha vida.
Na semana seguinte, o homem que estava a meu lado levantou o braço e ofereceu-se para ler a sua história: "Enquanto fazia a minha lista, lembrei-me de um incidente no liceu. Fui criado numa pequena cidade em Iowa. Havia na cidade um sheriff de quem nenhum dos jovens gostava. Uma noite, dois amigos e eu decidimos pregar uma partida ao sheriff Brown. Depois de bebermos algumas cervejas, descobrimos uma lata de tinta vermelha, subimos a um depósito de água muito alto que havia no meio da cidade e escrevemos no depósito em letras brilhantes: o sheriff Brown é um filho da "p***". No dia seguinte ao acordar, toda a cidade viu o belo letreiro. Com intervalo de duas horas o sheriff chamou os meus colegas e chamou-me ao seu gabinete. Os meus amigos confessaram e eu menti, neguei a verdade. Nunca ninguém descobriu. Quase vinte anos depois, o nome do sheriff Brown apareceu na minha lista. Nem sabia se ainda era vivo. No fim-de-semana passado, liguei para as informações da minha cidade natal, em Iowa. Ainda havia um Roger Brown na lista. Liguei para o seu número. Depois de tocar algumas vezes, ouvi:
- Está?
Respondi:
- Sheriff Brown?
Silêncio.
- Bom, fala Jimmy Calkins. Quero que saiba que fui eu que fiz aquilo.
Silêncio.
- Já sabia! - respondeu num berro. Tivemos uma discussão animada e viva. As palavras com que encerrou foram: - Sempre me senti mal por ti, Jimmy, porque os teus amigos desabafaram e eu sabia que ias carregar esse peso todos estes anos. Agradeço que me tenhas telefonado... por ti.
Jimmy inspirou-me para resolver os 101 pontos da minha vida. Levei quase dois anos, mas foi o trampolim e a verdadeira inspiração para a minha carreira como mediadora de conflitos. Por mais difícil que seja o conflito, a crise ou a situação, lembro-me sempre de que nunca é tarde de mais para esclarecer o passado e começar a resolver."
By: Marilyn Manning


Amo-te infinitamente


Tua mãe