sexta-feira, 6 de junho de 2014

388 - Datas que devem ser lembradas ... hoje uma data só minha

Meu muito amado filho Estêvão
Eu gosto de celebrar datas. Gosto mesmo. Marcam a passagem do tempo, obrigam-nos a parar, a pensar, a fazer pontos da situação, avaliações, marcam a nossa lembrança, ajudam-nos a parar e a lembrar quem somos, para onde vamos e de onde vimos. Qual é a nossa história.
Há datas como o teu aniversário, o natal, o dia da criança, o dia dos namorados, o dia de Portugal, o aniversário da tua avó, o meu aniversário, o dia de anos da Mafalda, o dia de anos da Madalena, o dia em que o meu pai, o teu avó Francisco faleceu… sei lá datas. Datas que são nossas.
Mas há datas que são só minhas. Hoje é uma data só minha. Hoje faz um ano (exactamente um ano!) de um dia que marcou a minha vida (estou certa para sempre!). E por isso hoje te falo disto. Para registo.
Falo-te aqui muito de amor e como o amor é a razão de viver, a origem e o fim de tudo, como te amo infinitamente, como devemos amar a nossa vida, como o amor é a resposta a tudo. E é. É mesmo, meu amor. O amor é o princípio e o fim de tudo. Mete amor em tudo o que fazes, mete tudo o que fazes no teu amor, mete respeito no teu amor que o amor cresce, mete sol e luz e caminho e festa no amor, mete verdade e companhia e serás feliz.
Eu amo a minha vida, amo-te, amo as minhas pessoas, amo o que faço, amo o caminho que tenho tido, amo tudo o que aprendi nestes 39 anos de vida, do bom e do mal tudo tirei ensinamentos e de tudo se faz caminho de amor.
Mas faz hoje um ano em que tomei a decisão de não voltar a ter nenhum relacionamento íntimo com ninguém. Repara eu não disse que desisti do amor, isso aliás seria impossível porque o amor é sangue, é ar, é vida em mim. Desisti de procurar, de aceitar, de ter alguém na minha vida que não sejas tu e as minhas pessoas. Desisti de partilhar os meus beijos, os meus lençois, os meus pratos, o meu tempo, os meus sorrisos, os meus pensamentos com um namorado, com um companheiro, com quem não és tu ou os meus.
Foi uma decisão natural no sentido de fluida, no sentido de eu própria estava à espera dela (acho até que demorou muito tempo a chegar a esta decisão) e não foi a ultima gota (ou seja o meu ultimo relacionamento) que me fez tomar essa decisão (ninguém sozinho tem esse poder!) foram as gotas todas que encheram o copo até à ultima gota que o fez transbordar … eu não vejo a vida como gavetas independentes umas das outras, uma gaveta do trabalho, uma gaveta da família do coração, uma gaveta da família de sangue, uma gaveta dos filhos, uma gaveta das inseguranças, uma gaveta do passado, uma gaveta dos amigos, uma gaveta do trabalho, uma gaveta do futuro… não consigo viver assim… para mim todas as gavetas estão espalhadas num loft espaçoso onde vivem e se cruzam e conversam umas com as outras… e isso implica entrega, entrega essa que é obviamente acompanhada por dor, por desilusão… porque amor é falhar sempre sempre sempre e começar de novo outra e outra vez… até nasceres eu lidava com essas desilusões, com os abandonos como naturais como parte da vida, como parte do caminho como parte do crescimento… mas o ano passado percebi que para ti não é nada assim e a mim esses bocados partidos, partiram-me mais ainda o coração que todos os meus relacionamentos acabados. E se eu posso ouvir “não gosto de ti o suficiente para manter contigo um relacionamento” … eu não quero que tu te desiludas mais com pessoas que aparecem e não ficam (nem têm que ficar obviamente os caminhos de cada um são os caminhos de cada um!).
Não existe relacionamento bom de verdade sem entrega. Relacionamentos vividos cheios de medos, recheados de atitudes pensadas, com fobia de passos em falso, acabam sendo sempre limitados e rasos. Não é possível amar cheio de medos. O amor não aceita essa condição, não há acordos, cláusulas extras no contrato – amor é tudo ou nada. Nada na vida é perfeito. O amor com entrega leva-nos às alturas – e, já estamos cansados de saber que, quanto maior a altura, mais longa a queda. Não dá pra ter tudo.
Mesmo conscientes da dor que geralmente surge no fim da estrada, escolhemos arriscar. E fazemo-lo porque sabemos que de nada vale a vida se não a vivermos com emoção. Não amar por medo de se decepcionar, é como rejeitar a sobremesa por medo de engordar. Ou como entrar no mar e não molhar o cabelo por medo de estragar a escova. O medo freia-nos, limita-nos. Uma das lições que deveria ser passada de mãe pra filho, ou que deveria ser ensinada na escola (no lugar de logarítmos) é a seguinte: Ama profundamente, deves estar preparado para a dor e, quando ela chegar, desapega-te. Muitos podem dizer que essa tarefa é difícil demais, que não é possível desapegar-se assim. Pois eu não concordo. Ninguém disse que é fácil – estou apenas a dizer que é necessário. E tu vais sofrer muito de amor, muitooooooo é normal é natural, até… mas não pelos meus desamores. Isso não voltará a acontecer.
É isso mesmo, se em algumas alturas da vida escolhemos arriscar …acreditando que um dia chegaria alguém que nos abraçaria e encontraria todos os bocadinhos do nosso vidro partido, e nos faria entender porque antes as coisas não correram bem… houve há exactamente um ano um momento em que eu decidi que não vou arriscar mais.
Na altura foi difícil. Pensei que ia ficar triste, muito triste muito tempo, pensei como não era justo como se a vida fosse (ou tivesse que ser) justa, ou tão pouco nos outros houvesse necessidade disso… de serem justos connosco. Não há nem tem nunca de haver.
As pessoas cruzam-se na nossa vida por uma razão disso eu não tenho nenhuma dúvida, nenhuma mesmo, e sei que tudo é caminho, tudo é aprendizagem e que algumas pessoas estão apenas connosco uns poucos momentos para nos ensinarem o que temos de aprender com elas e que depois seguem (e ainda bem) o seu caminho de felicidade e de vida.
E talvez eu estivesse mesmo a precisar de aprender a lição que aprendi, vivi 38 anos com o coração na boca, confiando e acreditando no amor para a vida, no amor biunívoco, no amor em partes iguais, no amor companheiro de caminho, no que os poetas chamam “história de amor” e o meu coração partiu-se uma vez, duas vezes… duzentas vezes… e duzentas e uma vezes levantei-me apanhei os bocadinhos de vidro, chorei e descobri que se nos meus relacionamentos não encontrei quem me ame o suficiente para manter comigo um relacionamento… é porque andava à procura no sitio errado… eu amo-me tanto, e amo-te tanto e temos tanto para aprender e viver… que não quero mais chorar por não encontrar no outro (o sitio errado de procurar!) a companhia que eu sou para mim mesma e que tu és para ti e para nós.
A vida será sempre o que tiver que ser… disso não tenho sequer ilusões… já aprendi essa parte bem aprendida… a vida sempre encontra um modo de nos mostrar onde temos de estar e o que temos de fazer… por isso as palavras “nunca” e “sempre” e suas variações deixaram de fazer parte do meu quotidiano.
Neste momento da minha vida esta minha escolha faz sentido e tem sido justificada a cada dia que passou neste ano… o futuro a Deus pertence diz quem é muito mais sábio que eu…
Vou (vamos) ouvido os sinais que a vida nos vai dando não é?
Agora que o coração não bate nem perto da boca é muito mais fácil ouvir o que se passa na minha vida.
É isso que neste dia eu celebro… deixar a vida fluir, sem medos, sem lagrimas… só amor e alegria.



Amo-te infinitamente

Tua mãe




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