quarta-feira, 30 de maio de 2012

41 - Não gastes mais que precisas

Amado filho
Poupar é a palavra chave. Gasta menos do que ganhas. Cartões de crédito não e se tiveres de ter, paga tudo no mês a seguir.
Poupa poupa poupa poupa. Sempre.
Deixo-te um texto para pensares.
Amo-te muito

Tua mãe



GASTAR MENOS PARA GASTAR SEMPRE
Sei que o caso do Jacob de guardar 80% do que se ganha para poder se aposentar jovem é extremo, mas realmente, faz sentido trabalhar 40, 50 anos pra só depois poder se aposentar? Faz, claro, se a pessoa absolutamente adora o que faz, e não consegue se imaginar sem fazê-lo. Mas, hoje em dia, encontrar pessoas assim está cada vez mais raro. Conheço muito mais gente que diz “Eu gostaria de largar meu emprego se pudesse” que “Amo o meu trabalho”. Tirando a Europa, no resto do mundo as pessoas trabalham mais do que antes, mais horas por dia. Geralmente moram longe de onde trabalham, e esse tempo perdido de ir e voltar do trabalho é extremamente cansativo também (como isso é importante! Em Detroit o maridão e eu tivemos a experiência de morar pertinho de onde precisávamos ir todo dia, a quatro quarteirões de distância. A economia de tempo e dinheiro é incrível. Se pelo menos uma das duas pessoas que trabalham na casa pudesse morar perto, é um investimento que vale a pena. Estou felicíssima por poder repetir a dose em Fortaleza).
E sei que parece até heresia falar, num país em desenvolvimento, na importância de poupar. Muitos brasileiros ganham um salário mínimo que, apesar das recuperações reais, ainda é baixo. Mas a verdade é que meus leitores não ganham salário mínimo, então vamos parar de fingir. O fundamental é o quanto se gasta, não quanto se ganha. Conheço gente que ganha muito pouco e que, por gastar pouco e ser organizada, consegue guardar dinheiro. Tenho um casal de amigos com um nível de instrução formal bem baixo. Ela é faxineira, ele, pedreiro. São responsáveis e guardam dinheiro. Primeiro compraram um terreno. Aí construíram sua casinha própria. Algum tempo depois, compraram um outro terreno, construíram outra casinha, desta vez um sobrado. Alugaram a parte de cima, pra ter uma renda extra, e abriram um bar embaixo. Não deu muito certo; eles não gostaram da experiência de ter bebum de bar tão perto. Então reformaram a parte de baixo e a alugaram como escritório. Eles sabem que, à medida que a idade vai avançando, não vão poder fazer trabalho que exige esforço físico pra sempre. Querem ter outra fonte de renda. Bom, eles, que não chegaram aos 50 anos, já têm três imóveis. E deixe-me dizer mais uma vez: ele é pedreiro, ela é faxineira.
Também conheço gente que ganha um monte e vive endividada, porque gasta mais do que ganha. Imagino que todo mundo conheça alguém assim.
Eu poderia tranquilamente gastar mais. Poderia ter celular, que eu considero bastante inútil (ok, sei que eu e o maridão estamos entre os cinco únicos brasileiros a não ter celular), e acrescentar mais 100 reais mensais às minhas despesas. Poderia ter TV a cabo. Poderia contratar uma empregada. Poderia comprar roupas de grife e frequentar cabeleireiro. Poderia comer coisas mais caras, e não apenas comprar um pedacinho minúsculo de queijo gorgonzola quando o preço cai a menos de R$ 25 o quilo. Poderia comer fora diariamente (pra falar a verdade, gostaria disso). Poderia ter um segundo automóvel. Poderia ir a uma academia de ginástica ao invés de me exercitar andando. Poderia ir ao cinema em qualquer horário e dia, sem me preocupar quando o ingresso estiver menos caro. Poderia ter um plano de saúde (agora temos um! Mas é pelo sindicato, e contamos com um benefício. Assim, pagamos cerca de 200 reais por mês do nosso bolso, entre o maridão e eu. Eu já acho caro pacas). Poderia usar jóias. Poderia ter um hobby caro, colecionando raridades. Poderia inclusive ter filhos. Poderia viajar muito mais e, quando viajasse, ficar em hotéis caros, sem pechinchar, sem pesquisar preços. Poderia assinar vários jornais e revistas, mesmo os que não seriam lidos. Poderia comprar o equipamento de ginástica por R$ 1.380 de um vendedor tão simpático, e usá-lo como cabide (o equipamento, não o vendedor). Poderia comprar livros toda semana. Poderia gastar tudo o que ganho, e muito mais. Em outras palavras, poderia ter o padrão classe média que boa parte dos meus amigos tem.
Mas eu estabeleço prioridades. Não quer dizer que eu esteja certa e os outros, errados. Cada um faz o que quer. Só que não dá pra ter tudo. Realmente não dá pra viver como os amigos esbanjadores e querer guardar dinheiro.
Quando fui pra Joinville, eu tinha dez mil dólares, dinheiro que havia guardado trabalhando em SP dos 19 aos 26 anos. Era mais fácil guardar dinheiro morando com meu pai, lógico. Ele pagava a comida e o aluguel, e eu só pagava a minha faculdade e transporte. Sobrava salário no fim do mês, e aí eu, que nem tinha conta de banco na época, ia a uma casa de câmbio e trocava meus cruzeiros por dólares. Foi assim que escapei do Plano Collor, e foi assim que guardei 10 mil dólares. Chegando em Joinville, ao visitar imobiliárias à procura de um lugar pra alugar, fiquei surpresa ao notar que havia casas à venda por esse valor. Vi várias. Fui também até Blumenau, e visitei algumas por lá. Optei por uma casa onde morei durante 16 anos. Claro, não era uma casa luxuosa. Mas tinha (tem ainda) três quartos, ficava num terreno de 420 m2, e contava com uma casinha nos fundos. Depois de comprar a casa, aluguei a casinha dos fundos, ganhei um dinheirinho jogando xadrez, e aprendi a viver com cem dólares por mês. A casa custou apenas 7,500 dólares. Sobrou um pouquinho. Mas, com o aluguel e o xadrez, eu ganhava o suficiente pra me manter. Quer dizer, eu não tinha nada. Nem carro, nem telefone, nem computador, nem internet (que não existia em 93). Prefiro a minha vida hoje, não nego. Aqui em Fortaleza, compramos uma casa maior, mais cara, melhor localizada, e pagamos a diferença (mais de 60 mil reais entre o que conseguimos pela casa em Joinville e o valor da casa aqui) à vista. Seguimos sem dívidas, sem financiamento, e com dinheiro no banco pra nossa aposentadoria.
Não é preciso ser pão dura assumida como eu, oito ou oitenta. Dá pra arranjar um meio termo. Ninguém precisa se privar de coisas boas, mas gastar tudo que se ganha, sem pensar no futuro, é igualmente ruim. O que vale mais a pena: ter um padrão acima das suas condições, que vai se esvair em poucos anos, ou levar uma vida frugal, e manter o mesmo padrão pra sempre? Pessoalmente, eu fico com a segunda opção sem pestanejar.
lola aronovich


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